domingo, 25 de fevereiro de 2007

Além Do Tejo

Esta talvez seja a colectânea mais conhecida (para já) do Alentejo. Editado pela Covil Produções, provavelmente a editora mais representativa desta região de Portugal, o disco contêm 18 faixas, com nomes que já vão sendo conhecidos do público “mais por dentro”: Suarez e Camate (Movimento Clandestino), Praso, Zikler, Blaya, … Daqui vem também o famoso single “Sensação de Alegria”, que passou nas rádios e entrou na primeira compilação da distribuidora SóHipHop e num CD bónus da já inexistente revista Hip Hop Nation (lamentavelmente), o qual foi (ou parece ter sido) bem recebido pela comunidade português de hip hop. Entretanto, e já antes disso (com o álbum “Em O Poder do Verso”, de 2002, e o EP “P.D.S.”, de 2004), o movimento (alentejano, e também do sul) cresceu e multiplicou-se: há apenas cinco meses (Setembro de 2006), Zikler lançou o álbum “Eu Sou Isto” que parece ter tido uma boa aceitação e foi muito comentado, por exemplo, nos fóruns da Internet.

Com toda esta agitação, é caso para perguntar: poderá o que eles fazem ser considerado rap? Não se deduza erradamente a partir da minha pergunta que eu não os considero dotados da capacidade empírica que é preciso para o hip hop, muito pelo contrário, acho que fazem muito bem e têm todo o direito de o fazer. Mas isso sou eu. Os alentejanos não possuem propriamente grandes cidades ou zonas urbanas das quais possam relatar vivências próprias daí, característica muito enraizada no rap. Podem, no entanto, falar de um outro estilo de vida que nós, citadinos, não conhecemos ou não temos uma ideia precisa de como é. Além disso, a atitude também é muito diferente, consequência de uma noção de realidade diferente, mais uma vez, da nossa, citadinos (isto também se aplica, embora em menor escala, ao abismo, umas vezes maior, outras vezes uma frecha apenas, entre o Norte e o Centro (Grandes Lisboa, mais precisamente)

Contudo temos também diversos pontos em comum: falamos das mesmas emoções (sim, porque ser alentejano não significa ser alienígena), de concertos bem sucedidos, festas e por aí fora, os quais também são muito importantes para o hip hop (são os temas mais positivos). Será que a diferença entre o estilo alentejano e o nosso os põe fora dos limites do rap? Como já disse, eu acredito que não, mas isso sou eu.

Ficam aqui uma pequena lista, para terem a noção, de alguns CD’s oriundos do Alentejo e Sul de Portugal:

- Álbum “Em O Poder do Verso” (2002) – Movimento Clandestino
- EP “P.D.S.” (2004) – Projecto de Surra/ editora Covil Produções
- Colectânea “AlemDoTejo” (2005)/ editora Covil Produções
- EP “Cofre Nocturno” (2005) – Praso
- EP “Número 1” (2005) - Blaya
- Colectânea “Rusga” (2005)/ editora Covil Produções
- Álbum “Eu Sou Isto” (2006) – Zikler/ editora Covil Produções

1 comentário:

Anónimo disse...

Não podia deixar de comentar tal texto, pois absorveu todas as minhas atenções, devido ao conhecimento vasto que tu tens do rap alentejano.
Concordo em muitas coisas contigo,( e percebo que não estás a por em causa o Rap no Alentejo) mas não achas que o rap já ultrapassou o conceito urbano e se afirmou como um estilo musical?
Se formos analizar e comparar agitações urbanas, como ves portugal no resto do mundo????
uma aldeia, certamente ou um pequeno monte...
logo Tambem não faria sentido o rap proliferar em terras lusitanas.E no entanto temos grandes músicos/rappers a defender a nossa bandeira e os seus estilos.
Gostei muito do que disseste e faço te uma vénia por conheceres tanto de uma região tão esquecida como o alentejo.
Já agora, se quiseres mais novidades da covil, eles ja tem myspace, www.myspace.com/covilproducoesestudios
Vai sair mais um album "rural" (hehe) - Suarez - Visão de um estranho.

abraços