terça-feira, 25 de dezembro de 2007

CR - 1 Ano Depois...

EDIT: Este post faz parte dos que foram publicados com atraso, sendo concluídos apenas em Janeiro de 2009, embora pertençam a Dezembro de 2007. No entanto, o autor concluí-os como se não tivesse havido atraso algum (e ainda estivesse em Dezembro de 2007). Este post em concreto, foi pensado ainda quando os primeiros textos ainda estavam a ser publicados neste blog, mas apenas concluído também em Janeiro de 2009.

Um ano depois de ter criado este blog, confesso que estou satisfeito com o resultado.

Ao princípio, não sabia bem durante quanto tempo ia durar, ou sequer a quem me queria dirigir. Dado que achei que talvez não tivesse grande divulgação, achei que também não valia muito a pena pensar nestes assuntos. Era o meu blog, e acabava aí. Despejava para aqui os assuntos sobre os quais gostava de saber outras opiniões, mas que não tinha oportunidade de o saber de outro modo pois não convivia diariamente com pessoas que partilhassem esta paixão tanto como eu.

Comecei por divulgar o blog nos fóruns (nos quais tinha sido viciado a algum tempo atrás). Tive 5 comentários no primeiro post (sem contar com o meu), e para mim isso foi muito bom. E deu-me pica. À medida que postava, ia “afinando” a filosofia do blog, construindo o seu carisma, ou como comentou o André Silva num dos tópicos, «fazendo algo à sua própria imagem».

Fui tendo mais leitores, comentários de outras pessoas, algumas até de Braga, para minha surpresa. Achei que talvez conseguisse ter o meu próprio lugar, e dado que não havia (e ainda não há) assim tantos blogs sobre hip hop tuga (principalmente), continuei na minha aventura.

Ia escrevendo, no computador ou à mão, os meus posts, tirando notas sobre as entrevistas que lia, as notícias de que tinha conhecimento, gravando emissões do Nação Hip Hop que achasse que me seriam úteis para mais tarde. Ao mesmo tempo fui expandindo o blog noutras direcções, de que são exemplos os anexos do CR. Estes seriam formas de ajudar o leitor a ter a informação completa sobre aquilo que eu escrevia. Todas estas coisas ajudaram a que o blog ficasse mais forte, mas uma coisa fica clara: o blog não seria nada disto se não fossem as pessoas que me foram ajudando a passar todas as etapas até que ele se tornasse o que é agora. A essas pessoas, aqui vão os meus agradecimentos:

À Joana Nicolau pelo imenso auxílio tão fundamental que me prestou, em diversos aspectos do blog; ao A.Silva e ao P.Silva pelos conselhos e elogios (e dos primeiros!); a estes três e ao resto da já desintegrada equipa IV STREET (R.I.P.) pelas duas oportunidades que tive de participar na revista (sem dúvida o ponto máximo do meu trabalho como estrofe).

Ao PM e ao seu animado blog Hip Hop Excêntrico.

À Footmovin por ter autorizado que a sua música fosse incluída na playlist do blog.

À Equipa XLRap.

Aos outros blogs que aqui já estavam quando eu cheguei e que me fizeram sentir acompanhado (por ordem alfabética): Assalto Sonoro, Fonocaptador, Hit Da Breakz, Horizontal Records, Piecemaker e Suburbano; E ao DarkSunn e o seu blog Reality Break Records que entretanto nasceu (e cresceu).

À Sofia Meireles, Filipe Nunes e o resto da equipa H2Tuga, muito obrigado pela paciência, ajuda nos problemas técnicos do blog e oportunidade de estar conectado com o melhor site de hip hop tuga (sem dúvida!).

Ao Hip Hop Web (que esperemos que regresse).

Por último, last but not less, queria agradecer aos meus estimados leitores por terem lido os meus posts e reflectido sobre o seu conteúdo.

Daqui para a frente, é sempre a dar-lhe!

Chegamos à parte que foi pensada há quase um ano atrás, e para acabar de forma emocionante. A todos:

Obrigado, Sinto-me [enaltecido, vá]
Sem ti nada disto era real
Eu sou a rima e tu o instrumental
(…)
É [pela tua persistência]
Q’ainda existe o [Cultura de Resistência]
Mais uma vez obrigado
Sinto-me [elogiado]
Obrigado por ouvires tudo o que tenho a dizer
Tudo o que escrevi, tudo q’ainda hei-de escrever, obrigado

Boss AC - Sentir Tão Bem in RAP - Ritmo, Amor e Palavras (2005) (excerto adaptado)

Esperemos que o AC não se zangue. Afinal isto é só o blog de um puto que é parvo :D

Fiquem bem.

quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

Polémica - Portugueses a Cantar em Inglês? (1 de 2)

EDIT: Este post faz parte dos que foram publicados com atraso, sendo concluídos apenas em Janeiro de 2009, embora pertençam a Dezembro de 2007. No entanto, o autor concluí-os como se não tivesse havido atraso algum (e ainda estivesse em Dezembro de 2007).

«O Hiphop é provavelmente a cultura internacional mais nacionalista»

Nicolau - “Qual Hiphop vs Metal?in Hiphop Kulture (28/12/2006)

Odeie-me quem quiser, mas eu não tenho qualquer problema em desenterrar assuntos (como já vem sendo hábito neste blog) que para muita gente são do passado. Na verdade, só vejo vantagens. Tenho acesso a opiniões bastante divergentes, conseguindo assim comentar algumas delas e rematar com a minha.

Para escrever este tópico, houve três fontes que achei bastante relevantes: o texto do Valete no blog da Horizontal, intitulado “Fernando Cabeça-na-Lua”; a entrevista do Sam The Kid ao Rui Miguel Abreu no Nação Hip Hop (a qual gravei em cassete); o post da Nicolau sobre esta polémica no seu blog.

Para desmistificar certas crenças que algumas (não digo a maioria) pessoas têm, há que começar por referir que esta discussão NÃO começou com a música “Poetas de Karaoke”. Já existia dentro do hip hop tuga e já existia fora do hip hop tuga. A diferença é que muitas pessoas entenderam a mensagem desta música como um ataque de um artista (Sam The Kid) de um universo específico (o Hip Hop) a outro artista (mais propriamente, artistas: os Moonspell) de outro universo (o Heavy Metal). Depois começou-se a generalizar, e a comunicação social andou a esfregar as mãos com títulos do género: “Hip Hop vs Heavy Metal” e sabe-se lá que mais. Voltemos à raiz do “problema”.

O Sam The Kid lançou em 2006 o Pratica(mente) cujo o single se chama “Poetas de Karaoke” , apresentado como um “protesto contra os músicos portugueses que cantam em inglês” (STK justificou ter escolhido a música como single afirmando que é um assunto sobre a Música). A partir daqui, a coisa descambou.

Vou tentar relatar-vos como tudo aconteceu (espero ser fiel à ordem cronológica dos acontecimentos): certos fãs de heavy metal ouviram o nome “Moonspell” na música do STK e interpretaram a mensagem da maneira errada (mais à frente explico porquê); a polémica ganhou força, os jornalistas deram conta e foram questionar o vocalista dos Moonspell, um tal Fernando Ribeiro, o qual respondeu aos comentários com uma crítica ao STK e ao Hip Hop Tuga em geral. Foram estas as suas declarações ao jornal Correio da Manhã:

«Ficámos tristes e desiludidos. Custa-nos ver músicos como o Rui Veloso pactuarem com um vídeo que, apesar de defender a nossa língua, é agressivo e completamente americanizado... (…) A comparação feita com o nome dos Moonspell é infeliz. Fizemos mais por Portugal do que qualquer banda de hip-hop. Levámos para fora poetas como Pessoa, Cesariny, José Luís Peixoto. Já gravámos em português. A nossa música tem muito mais portugalidade que o hip-hop. Cantamos em inglês porque essa é a língua de comunicação no Heavy»

- Fernando Ribeiro (Moonspell) in Correio da Manhã (Data: ???)


As declarações do STK no mesmo artigo:

«Até os admiro muito por tudo o que conseguiram. Esta canção é um alerta aos músicos que cantam em inglês para vender mais... Afinal, a Dulce Pontes e os Madredeus, que também refiro na canção, internacionalizaram-se, mas em português. (…) Canto hip-hop e, se calhar, até sou mais americanizado que o David Fonseca, que canta em inglês. Foi por isso que também me caricaturei. Sabia que iam pegar por aí.»

- Sam The Kid in Correio da Manhã (Data: ???)


Vou começar por falar da polémica. Na minha opinião, e pelos vistos está certa, dadas os comentários do Sam The Kid, não só ao Correio da Manhã como a uma série de outras entrevistas, ele não queria atacar os Moonspell. Vou-vos mostrar os versos em questão:

Querem ser os Moonspell querem novos horizontes

Mas aqui o Samuel é Madredeus é Dulce Pontes
Porque há uma identidade, vocês são todos idênticos
São autênticos mendigos vendidos por cêntimos

Acho que aquilo que despoletou esta polémica menor (dentro da polémica maior que é a discussão de se cantar em inglês ou não) foi as pessoas terem ignorado aquela parte do primeiro verso que diz “querem ser”. Se riscarem isso e voltarem a ler, realmente assim parece que o STK está a atacar os Moonspell. Só que essa parte faz toda a diferença! Se calhar se as pessoas lessem mais não teriam tantos problemas em interpretar o que outras pessoas escrevem.

«Querem ser os Moonspell». Quem? Bem, os Moonspell não são de certeza, pois que sentido faz que queiram ser eles mesmos se já o são? Para saber a quem o Sam The Kid se está a referir, tem que se ler a letra toda: o STK refere-se às pessoas que cantam em inglês tendo em vista o sucesso (especialmente o financeiro: “são autênticos mendigos vendidos por cêntimos”).

Para lerem o excerto da entrevista que transcrevi de cassete, com muito suor, para papel, ou melhor dizendo, para um documento Word, basta clicar aqui. Foi a primeira vez que fiz algo do género, e como vocês também poderiam notar se o tivessem feito, é muito diferente quando é uma entrevista dada na rádio ou para um jornal, isto porque num jornal eles “limpam” tudo, ou seja, aquelas repetições ou palavras desnecessárias (não me entendam erradamente, não estou a falar da censura) que as pessoas normalmente acabam por dizer numa entrevista oral (tal não sucede se for dada por e-mail ou Messenger). Contudo, decidi não limpar nada, incluindo, por exemplo, os “…, ‘tás a ver?” do Sam The Kid, pois dão um aspecto ligeiramente cómico à entrevista. Eu tinha a entrevista no IMEEM, mas dado que foi o IMEEM desapareceu, criei um blog para postá-la. Depois pensarei numa solução melhor.

Em breve a continuação, para responder à verdadeira questão…

segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

Tipos de MC's

«Todos quieren jugar / Hacerse escuchar, destacar y rimar»

Nach - “Tipos de MC's in Ars Magna (2005)

Para quem ainda não ouviu a música (que já não é novidade), recomendo vivamente que a ouçam.

O Sam The Kid tem uma justificação para não pôr as letras das suas músicas no livrinho que acompanha os seus discos: acha que cada um deve interpretar o que ele diz à sua maneira. E eu concordo. O que não impossibilita necessariamente que se forneçam as letras, até porque a sua ausência pode suscitar mal-entendidos, tal como aconteceu com a “Poetas de Karaoke”. De qualquer modo, vou explicar aqui o que me interessou nesta música do Nach que acho tão actual, e espero assim sublinhar a sua importância.

Nach separa dez tipos de diferentes MC’s, caracteriza-os individualmente e indica os defeitos de cada um. No fundo, isto é um grande ataque a muitos MC’s que se copiam todos uns aos outros. Ouvindo a música, lembrei-me de nomes para associar a alguns tipos.

Ouçam e comentem.

quinta-feira, 29 de novembro de 2007

CR - Apresentação Acabada!

Ora bem, trago boas notícias: a Apresentação já está acabada. No entanto só vale a pena dar uma olhadela quem não tiver lido este blog desde o princípio, já que muitas coisas já foram ditas nos posts. Peço a toda a gente, tenha ou não já comentado aqui, para deixar uma mensagem no guestbook sobre o CR, de preferência positiva (olha que eu sei onde é que moras, moço!).

Segunda boa notícia: em Dezembro pretendo postar 5 tópicos em vez dos habituais 3, de forma a compensar as faltas nos meses de Julho e Agosto. Por isso, mantenham-se atentos (e esforcem-se por comentar).

Bem, estas eram as novidades, agora aproveito para relembrar a todos que podem enviar um e-mail para cr_email@sapo.pt para ficarem inscritos na newsletter e assim serem avisados de todos os posts que eu vou pondo.

Torno a avisar também que o Guia de Hip Hop na Internet está em actualização contínua, não só no que respeita aos links dos sites e blogs (nacionais e internacionais) mas também os vídeos (clips e outros diversos). Sinceramente, acho que está muito bom e recomenda-se. Há um canal do CR no YouTube, que para já apenas contém oito vídeos, mas em breve esse número irá crescer, irei até se calhar criar uma outra playlist para os videoclips estrangeiros.

Agradeço a todos os meus leitores pela dedicação e um especial obrigado a todos os que já comentaram (façam-no de novo!).

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

Onde Compras?

ATENÇÃO!
Este post contém informações sobre onde comprar discos. Para uma melhor compreensão do texto, o autor sugere que procure no dicionário as definições de comprar e disco e pede desculpa por não estarem incluídas no glossário.

Abriu há pouco tempo uma FNAC em Braga, o que significa que já não preciso de ir ao Porto para comprar CDs de rap (que estejam a um preço mais ou menos razoável). A alternativa é encomendar na Daklub, mas isso só se aplica a álbuns portugueses, e nem é a maioria.

Mesmo no Porto, é a FNAC e pouco mais. Onde se pode comprar álbuns de hip hop neste país?! Já nem se fala em lojas especializadas – temos quê? A Supafly no Bairro Alto, Marka Koktaill em Espinho e a de The Yard em Quarteira (digam-me se estiver errado, pois nunca visitei nenhuma) e há a King Size… ah, espera, essa já fechou! – por isso não há muitas dúvidas de que só quem procura mesmo o género é que o poderá encontrar (a não ser que se percam numa FNAC).

Gostava de saber qual é a loja onde compram os vossos CD’s (os de hip hop), mas não se esqueçam de referir a cidade.

sábado, 10 de novembro de 2007

Comparações

«Se dinheiro fossem rimas, tu dormias ao relento»

Mind Da Gap - Como Quem? in Sem Cerimónias (1997)

«Se Hip Hop fosse água, passava a vida a fazer xixi»

Boss AC - “Hasta la Vista in Manda Chuva (1998)

«Se Hip Hop fossem sapatos, falsos aí andavam descalços»

Fuse - Metaf'rofusão in Pa'trástoplay No Teu Melão (2001)

Se, se... Porque é que há tantas comparações nas músicas de rap tuga? Não que eu me queixe, algumas são bem engraçadas. Desta vez, peço que sejam vocês a procurar as razões.
Obrigado, estimados leitores.

«Se Hip Hop é violência, a voz é a munição»

Sam The Kid - Não Percebes in Sobre(tudo) (2002)

«Se beats fossem cafés, eu sofria de nervosismo»

Regula - Comparações in 1ª Jornada (2002)

«Sinto a música como uma mulher que me mexe por dentro»

Tekilla - Afirmando-me in Tekillogia (2004)

quarta-feira, 31 de outubro de 2007

Álbuns de Instrumentais

Queira-se ou não, em Portugal o Hip Hop ainda não é muito bem recebido (comparativamente com outros países), seja qual for a vertente, e principalmente pelas faixas etárias mais altas. Tocam mais aos adultos os instrumentais do que as letras, tal e qual como aos críticos.

Tomemos como exemplo o Sam The Kid: quando comecei a ouvir a música dele, o que me chamava mais a atenção eram as letras, não os beats, porque não percebia o suficiente sobre Hip Hop para os apreciar. Assim, tenho como mais antiga a imagem do STK como um grande MC do que como um grande produtor. Claro que, como entretanto aprendi mais sobre a cultura e a vertente musical, agora sempre que se fala nele associo-o às duas imagens.

No entanto, tanto dentro da pequena comunidade que apoia o movimento como o grande público tem nitidamente mais em estima o STK como produtor do que o STK como MC. As críticas nos jornais sobre o seu último álbum são constituídas por 90% de material referente às produções e uns escassos 10% sobre as letras. O único álbum de instrumentais dele conquistou muitos mais admiradores adultos do que os CDs anteriores. Isto pode ser injusto, mas nunca ninguém disse que a verdade é justa.

Os álbuns instrumentais são, portanto, extremamente importantes para o Hip Hop crescer e lá fora eles saem com grande frequência, tanto como novidades como em versões com beats de álbuns de rap, sendo os principais autores produtores e DJ’s, como o DJ Premier, Madlib ou DJ Shadow.

Cá na tuga o número é pequeno, mas aqui ficam alguns bons exemplos:

- Sam The Kid - “Beats Vol.1 - Amor” (2002)
- Colectânea “Loop:Agents - Beat Generation” (2004)
- Fuse - “Inspector Mórbido - Instrumentais” (2004)
- D-Mars aka Rocky Marsiano – “The Pyramid Sessions” (2006)


Podem ler sobre um assunto relacionado com este no blog da Horizontal, procurem um post chamado “Beat-Hoppers” (postado a 27 de Dezembro de 2006).

domingo, 21 de outubro de 2007

Respeito Mútuo

«Essa é a primeira mudança»

Tranquilo (Mundo Complexo) in showcase da FNAC NorteShopping (06/05/2007)

Qual? O respeito. Brigas entre Norte e Sul, beefs que olhos mórbidos exploram, muitas críticas sem justificação. Ganhámos alguma coisa com isso? Penso que não. Mesmo que os beefs possam ter um efeito positivo, por darem pica, há sempre um lado mau. Qualquer um pode ir a um fórum da Internet sobre hip hop e facilmente encontrará um tópico sobre um beef qualquer, um texto em que denigrem a imagem de alguém, muitas vezes com base em boatos que posteriormente se verificam serem falsos.

Para quem não faz nada e tem muito tempo, isto é o pão de cada dia. Para os maus MCs que não têm nada para dizer, isto é o tema de cada uma das suas letras (mesmo que eles não estejam envolvidos em nenhuns beefs!). Proponho que se mudem essas mentalidades: respeitar ou não alguém não é determinado (ou não devia ser) pela simpatia que nutrimos por essa pessoa. Eu até posso não gostar do trabalho de um artista mas admitir que ele é de boa qualidade. Isto não é uma contradição. Uma coisa é uma pessoa perceber, outra coisa é uma pessoa sentir e identificar-se.

Portugal já provou ter bons MCs vindos do Norte, Centro ou Sul. Já provou que MCs que não se dão bem podem progredir na mesma sem se andarem a pisar um ao outro. Sabem, pode-se argumentar contra as acções de alguém sem o insultar. Pode-se criticar para corrigir em vez de criticar para denegrir.

Fica aqui uma sábia frase para memorizar (no suporte auditivo com o belo sotaque do Norte).

«Na minha perspectiva não se pode criticar o toy pela negativa, porque se não houvesse toys não havia pros, todos os bons já foram toys e alguns ainda são ascendentes a pros»

Chemega - L.U.V.'s in Pa'trástoplay No Teu Melão (2001)

domingo, 14 de outubro de 2007

Polémica - Underground vs Comercial

«Putos fazem um disco e já lhe chamam de carreira»

Pacman (Da Weasel) - “Amor, Escárnio e Maldizer in Amor, Escárnio e Maldizer (2007)

Este assunto já está mais que badalado, como vocês sabem. Mas é por isso que o classifico como polémica, porque tanto trabalho ainda não fez, parece-me a mim, muitas pessoas chegarem a uma conclusão satisfatória.

Esta ideia de anti-comercial está profundamente intrínseca na cultura hip hop tuga e é levada por muitos até ao extremo, criando uma paranóia de modo algum justificada, e que só contribuiu para boatos, comentários de mau gosto e até mesmo insultos. Esta confusão toda está também presente na Internet (e bem!) e eu próprio fui afectado por esta perseguição a tudo o que é (e muitas vezes não é) mainstream. Como em tudo, isto tem o lado bom e o lado mau: a capacidade crítica desenvolve-se, passamos a olhar mais desconfiadamente (mais atentamente, se preferirem um eufemismo) para o que é feito na tuga, mas também ficamos com o instinto de rejeitar tudo o que for mais ortodoxo, mesmo que não haja causa para isso.

Vamos por partes: o comercial é mau porque as pessoas normalmente só pensam no dinheiro ou na fama, porque distorcem a mensagem que o movimento hip hop tuga quer passar; por oposição, o underground é bom porque não há a manipulação do dinheiro e as coisas saem mais de dentro. Não acham isto demasiado simples?

E se acrescentarmos isto: o comercial ajuda a que o hip hop atinja o grande público e tenha maior divulgação, não sendo necessário para isso que os artistas se vendam; o underground pode ter todas as qualidades referidas, mas é constituído por uma minoria que percebe, tem experiência e princípios bem definidos e uma maioria que, muitas vezes: é iniciante mas muito ambiciosa, pouco paciente e pouco trabalhadora; explora o público a que chega com mensagens do género “nós do underground é que somos bons”; é constituída por falhados, pessoas que não têm nada para dizer ou só querem “espicaçar” os outros. Percebem agora onde eu quero chegar?

Com este texto eu apenas quero alertar para que o hip hop, tal como o mundo, não se divide em preto e branco: o que é famoso e se vende bem pode não ser tão mau como pensavam e o que é underground pode não ser tão bom. Mas não retirem daqui o que não disse: não defendo todo o comercial e não acho que ter uma maior divulgação seja uma justificação válida para fazer músicas vendáveis. Num movimento onde as pessoas que pensam ter liberdade andam por aí a gritar “underground” (tipicamente manipuladas pela referida maioria), eu prefiro o melhor dos dois lados.

domingo, 30 de setembro de 2007

Centros de Hip Hop

Não, não estou a falar de ginásios de dança. Estou a falar dos verdadeiros centros: lugares onde grupos de pessoas se juntam para praticar qualquer vertente desta cultura.

Às vezes bem que apetece sair de casa e encontrar alguém com quem se possa discutir algum aspecto desta cultura, ou ver b-boys a praticarem, ou seja o que for que esteja relacionado com o Hip Hop.

Quem estiver informado (portanto desde já se nota que não me estou a dirigir aos viciados no computador), escreva um comentário com nomes de sítios conhece onde isto acontece. Seja uma estação do metro onde se faz breakdance, um espaço onde haja battles ou uma parede “apetitosa” para os writers, onde quer que seja: Norte, Centro ou Sul.

Obrigado pela participação.

domingo, 23 de setembro de 2007

Videoclips

Cada vez mais, hoje em dia, os artistas musicais aderem à produção de videoclips das suas músicas, para que tenham mais visibilidade e sejam mais apelativas. Porém, também há maus aspectos nesta questão.

Comparo a transformação de uma música em videoclip, em certa medida, com a transformação de um livro em filme. Certamente já vos aconteceu – a dada altura – verem um filme baseado num livro que já leram e ficarem desiludidos com o resultado. Talvez por culpa do realizador e dos actores ou, mais provavelmente, por terem imaginado a narrativa de outra forma que não a descrita no vídeo.

Passa-se o mesmo com os videoclips. Seguramente em muitos deles não haverá qualquer problema (dependendo também da perspectiva de cada pessoa: algumas podem gerar imagens sobre o assunto porque estiveram de algum modo envolvidas com ele e outras não), mas muitas vezes, mesmo que não sejam storie tells, “pescamos” imagens e experiências nossas gravadas na memória para ilustrar (na nossa mente) aquilo que o autor está a falar. É também um dos objectivos mais importantes no rap: identificar-mo-nos com a música.

Assim, apesar de gostar de ver videoclips (mesmo com o risco de sair desiludido), não acho que estes tragam sempre só benefícios às músicas. Mas, já agora, aqui estão três videoclips recentes que eu gostei:

- Nas - “Hip Hop Is Dead” (2006)
- Kanye West c/ Rakim, Nas e KRS-One - “Classic” (2007)
- Sam The Kid - “Poetas de Karaoke” (2006)

Outros videoclips podem ser vistos nas respectivas listas (nacionais ou estrangeiros) no Guia de Hip Hop na Internet.

sábado, 15 de setembro de 2007

CR - Crítica na Exame Informática / Ponto de Situação

Há uns tempos, enviei o endereço do CR para a secção dos blogs da Exame Informática, uma revista que não vale a pena dizer sobre que é. Pretendia com isso saber o que podia melhorar no meu blog e determinar, com a ajuda dos especialistas que se disponibilizam, a sua qualidade. Foi com agrado que reparei que a edição deste mês cumpriu o meu desejo. Aqui está o artigo para quem quiser ler.

(estrofe) apela à revolta e à escrita no seu blogue inspirado e dedicado ao movimento hip hop.

Para manter
- Todo o conceito de «cultura de resistência» associado ao blogue, aos seus textos e mensagens
- A boa colecção de links temáticos
- Os vídeos associados
- A playlist dedicado ao hip hop nacional

Para corrigir
- A falta de interactividade sentida pela ausência de comentários aos posts”

Revista Exame Informática nº147 edição de Setembro de 2007

Peço-vos para lerem de novo a segunda parte, intitulada "Para Corrigir". Quem tem lido este blog, sabe que é o que tenho andado a tentar corrigir há muito tempo. Por isso, mais uma vez, peço a todo e qualquer leitor que passe por aqui para que deixe um comentário, não só para eu ter consciência das opiniões referentes aos assuntos que trato como para ter uma ideia de quantas pessoas vêm visitar aqui o blog (já que o contador de visitas não o faz).

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Peço desculpa por não ter cumprido o meu regime de 3 tópicos por mês nos meses de Julho e Agosto, mas estava um bocado apertado com outras coisas.
Algumas coisas no blog (e anexos) foram recentemente actualizadas, de forma a ficarem mais completas, espero que possam desfrutar desse trabalho. Aconselho a quem tiver tempo livre a ver alguns dos sites portugueses e estrangeiros no Guia de Hip Hop na Internet.

Ainda ando a trabalhar na apresentação do blog e peço desculpa pela demora.
Já sabem: correcções ou sugestões que queiram apresentar é só enviar um e-mail para cr_email@sapo.pt.

quarta-feira, 29 de agosto de 2007

Storie Tells

As storie tells são um tipo de música onde o autor conta uma história, normalmente com uma moral. Sendo escritas em forma de poesia, sou particularmente fã destas canções invulgares. Já toda a gente deve ter ouvido alguma, até porque existem muitas portuguesas. Estas são das minhas preferidas:

- Sam The Kid "A Caixa" ("Entre(tanto)" de 1999)
- Sam The Kid "O Recado" ("Sobre(tudo)" de 2002)
- Ikonoklasta "Puzzle Sonoro" ("As Melhores Coisas Na Vida São de Graça")
- Boss AC "Coisas da Vida" ("Manda Chuva" de 1998)
- Mind Da Gap "... As Coisas São" ("A Verdade" de 2000)
- Sam The Kid & Regula "Tudo a Nu" ("Cool Hipnoise" de 2006)
- Sam The Kid "16/12/95" ("Pratica(mente)" de 2006)

É preciso saber construir muito bem as rimas para que elas não fiquem repetidas ou mal enquadradas, o que depois torna engraçado ouvir o autor contá-las como se saíssem espontaneamente.

segunda-feira, 27 de agosto de 2007

Tudo a Mesma Coisa?

Na Wikipédia, a Enciclopédia Livre a categoria Hip Hop está separada em vários géneros, sendo no total 39. Ficam aqui alguns mais conhecidos:

- Abstract
- Alternative
- Gangsta
- Hardcore
- Instrumental
- Political

Agora provem-me que isto é tudo a mesma coisa.

terça-feira, 31 de julho de 2007

Preços Acessíveis

«Se cada exemplar vos custa realmente 15 euros a manufacturar, então permitam-me a insolência, mas vocês ou são mentirosos ou são burros! E em qualquer das hipóteses merecem fracassar»

Ikonoklasta - “Mais Uma Intrada in As Melhores Coisas Na Vida São de Graça

O outro lado da moeda. O primeiro lado, relativo aos downloads e o consumo a partir da Net, está descrito no tópico Polémica - Internet e MP3. Para quem estiver interessado, sugiro um tema relacionado, mencionado no blog Reality Breaks Records: o tópico chama-se “O CD tá morto, Vida longa ao CD.

Como já disse, este tópico é a perspectiva adversa ao dos downloads (o que não quer dizer que se contrariem). A desculpa, válida (ou parcialmente válida) ou não, que muitas pessoas dão para não comprarem CDs e fazerem downloads da música que querem é que os CDs são muito caros. Para quem não sabe, um CD de hip hop português na FNAC anda à volta dos 15 euros, se for de hip hop estrangeiro é provável que custe mais de 20 (como a FNAC não costuma vender artistas do underground estrangeiro, só mesmo os CDs mais antigos é que podem fazer baixar a média).

Confesso que não tenho ideia dos custos das editoras ao manufacturarem os discos, mas a verdade é que os preços dos álbuns já conheceram melhores tempos. Por isso compreendo que muitas pessoas sintam relutância em comprar CDs (e isto, falando apenas do hip hop, pois outro género de música, como o rock português, pode custar tanto como um de hip hop estrangeiro). Contudo, acho que as pessoas também não deveriam generalizar e, se encontrarem um CD bom a 10 euros, eu consideraria uma boa oportunidade.

Gostava de relembrar que os autores do disco, os artistas, podem ter um papel decisivo no preço do CD. Segundo ouvi, embora não o possa dizer com certeza, o Valete fez questão de que o seu fosse barato e, embora muitos aleguem que para ele é mais fácil porque também faz parte da editora, é sempre positivo este tipo de comportamento (o Educação Visual podia ser encomendado no seu antigo site pessoal a 7 euros e tal).

Mais uma vez, como estão a ver, nem oito nem oitenta. Eu também faço downloads, especialmente de música estrangeira, mas também compro CD's. Se se derem ao trabalho de estarem atentos e compararem preços, não há desculpa para não comprar um disco de vez em quando. Também não vos incentivo a comprarem todos os que gostam, especialmente os mais famosos, pois devem reservar os tostões para os que mais precisam. Já agora, falei no papel das editoras, mas também há a confusão das taxas de IVA: sabiam que as revistas pornográficas só têm 5%, o equivalente a um “bem de primeira necessidade”, e os CD's de música não?

quinta-feira, 19 de julho de 2007

Sem Meios Não Há Conquista

Só quem anda a dormir é que nunca reparou que o Hip Hop seduziu a juventude e reina agora nas rádios, que se tornou moda e que está em todo o lado, desde pastilhas elásticas a toques de telemóvel.

Todas estas características dariam para dizer que o Hip Hop tinha conquistado Portugal; não fosse haver um pertinente problema: onde está a indústria musical? Onde estão as grandes editoras, as revistas de Hip Hop, os estúdios, os festivais e os grandes concertos? Onde estão as provas mais consistentes de que o Hip Hop realmente teria conquistado Portugal? Será que lhe poderemos chamar de “Nação Hip Hop”, ou esta expressão continuará a só poder aplicar-se a pessoas “de dentro” e aos ouvintes mais dedicados?

Já ninguém, mesmo as pessoas que não simpatizam com a cultura, afirma que o Hip Hop continua a ser uma coisa desconhecida. Nos EUA a indústria até conseguiu que ele rendesse bem (e quase o matou!) mas parece que a indústria portuguesa não notou isso (ou então é aquela coisa dos portugueses estarem sempre atrasados).

Seja como for, penso que, por muito bons projectos que sejam, um programa de rádio (“Nação Hip Hop”), um programa de televisão (“Beatbox”) e uma revista virtual (“IV Street”) não bastam para sustentar o rap em Portugal, muito menos a cultura Hip Hop.

sábado, 30 de junho de 2007

O Valor das Letras

«Editoras e jornais e esses tais intelectuais, não percebem rimas, só instrumentais»

Sam The Kid - “A Partir de Agora in Pratica(mente) (2006)

Nas críticas dos jornais a álbuns de hip hop pode-se constatar que os autores dão muita importância aos instrumentais, ao papel do produtor. Talvez até demais.

Mas há quem diga que cada vez menos. O problema é que muitos críticos ainda não perceberam o quão importante é a mensagem no rap, como a insatisfação dos criadores do género relativamente à sociedade teve implicações directas na forma como este se desenvolveu. Mas quando estamos a falar de letras, não é devemos dar atenção só ao aspecto da mensagem, mas também há construção dos versos em si. Existem muitos rappers que não são grandes poetas simplesmente porque não sabem construir uma letra. Não têm cuidados com os versos que escrevem, fazem tudo à toa e a estética, o som que dá quando a letra é ouvida é, na minha opinião, muito importantes para se ser um bom rapper.

Talvez por a mensagem não ter tanto impacto noutros géneros musicais, muitos críticos não consideram as rimas algo tão explorável e interessante como os instrumentais. Porquê? Na grande maioria dos géneros musicais, as pessoas tocam instrumentos, e isso normalmente é muito mais admirado do que as que sabem escrever um simples letra. No rap, em que normalmente não se toca instrumentos, mas existem produtores para cuidarem da base musical, os instrumentais não deixam de poder ser admirados, já que podem ser tão complexos como os que são tocados pelas pessoas que os fazem. Mas aquilo que os MC’s dizem por cima foi ganhando relevo no passado (já que faço nisto, será que darão a devida importância às letras de outros géneros?) e hoje já vão muito mais longe do que um simples “ponham as mãos no ar!”.

Proponho também outra pergunta para reflexão: será que o facto de os Estado Unidos estarem atolados de hip hop americano, onde as mensagens passadas falam geralmente de perspectivas materialistas e pouco mais (resumindo, lixo de que ninguém quer saber), ajudou a que os críticos desvalorizassem o poder da poesia no rap? Estejam mais atentos quando lerem críticas nos jornais ou revistas e depois comentem aqui no blog.

domingo, 24 de junho de 2007

À Volta do Centro Também Há Hip Hop

«Às vezes o Porto fica um bocado à parte»

Presto em entrevista ao Nação Hip Hop

Sim, é verdade: Portugal não é só Lisboa. Também existe o Porto, Braga, Coimbra, Viseu, Beja, Évora, Faro, Santarém, … Ainda é grandito.

Mas às vezes parece que não. Sobretudo quando há pessoas que abrem um olho para a capital e fecham o outro para o resto. Sabem aquela “doença” que muitos americanos têm, que os faz pensar que não existe mais terra para além dos Estados Unidos? Deve haver uma variante dessa doença, menos perigosa e ainda assim irritante, que tem a pequena diferença de, em vez de se centralizarem as atenções nos EUA, é Lisboa que está no centro. Pena que só afecte os portugueses, senão até era uma boa oportunidade para expandir o turismo.

Algumas pessoas acharão isso normal, que o Hip Hop na capital tenha mais notoriedade que nas outras cidades, mas não é. Começo por desmontar a ilusão (para quem a tiver) de que o Hip Hop lisboeta é superior ao feito nas outras regiões. Vou falar mais do hip hop nortenho porque é aquele que me está mais próximo (naturalmente), e no final falarei também de outras zonas. Em termos de diversidade, o Porto está muito bem apetrechado, talvez não tanto como Lisboa (também não existem tantas influências culturais) mas está muito perto (espera… Qual foi a cidade que foi a capital europeia da cultura em 2004?). Em termos de qualidade, a diferença não existe. A capital do Norte tem também muita originalidade no rap que faz. Também temos b-boys a dançar breakdance no metro, por isso também não é por aí que podem atacar. E sim, as paredes do Porto já foram assaltadas muitas vezes por writers (um deles, Caos, em entrevista ao H2T, disse, referindo-se ao tempo em que começou a pintar: “foi numa época complicada, onde não se viam muitos trabalhos. Os que haviam por aí, eram do Ace e de algum pessoal que vinha cá em cima, ao Porto”).

Também noutros aspectos o Porto está muito desenvolvido no que toca à cultura Hip Hop: temos festivais com grande presença da cultura, um editora que já lançou muitos discos (diga-se de passagem, uma das mais interessantes) e outras menores (como a Ace Produktionz), temos um bar muito conhecido chamado Hard Club (e não preciso de dizer mais nada) e, finalmente, temos grupos que tornaram-se muito importantes, como os Mind Da Gap, ou os recém-chegados Mundo Secreto (e ainda os Dealema).

Para não ficarem com a ideia que é só o Norte que se integra no mesmo patamar do de Lisboa, podemos olhar para o Sul, onde temos também editoras, como a Covil Produções e a Sub-Cave Records. Temos grupos muito conhecidos como os Guardiões de Subsolo. Convém referir, como já o fiz num tópico anterior (“Além do Tejo”), o hip hop alentejano tem vindo a crescer imenso e em tão pouco tempo.

Com tudo isto quero apenas mostrar o quanto injusto é pôr um limite à volta da cidade dos alfacinhas e deixar o resto de lado. Acreditem ou não, isso incentiva a esta guerra que por vezes se vê entre Lisboa e Porto (Centro e Norte). Eu gosto imenso do hip hop lisboeta, principalmente porque não se diz “o”, mas “os”, já que há grupos que não têm realmente comparação uns com os outros. No entanto, tenho também um grande orgulho por ser cá do Norte, adoro o hip hop portuense e acho que as pessoas deviam perguntar-se o quanto custou para que as pessoas que estão envolvidas nestes projectos (e como viram, se há algo que não lhes podem chamar é “meninos mimados”) conseguiram, com pouca ou sem ajuda, alcançar uma fasquia tão alta. Biba ó Porto, carago!

domingo, 17 de junho de 2007

Os Púdicos que vão para o...

«E se vocês, ou os vossos pais são púdicos demais para ignorarem as asneiras, essa parte do vocabulário que faz parte do nosso léxico e se concentrarem só na mensagem, no que realmente interessa, eh pá, eu respeito a vossa opinião, são observadores e quê, eh pá, é a vossa opinião, mas vocês são otários, e por isso vão pró caralho!»

Ikonoklasta - “Mais Uma Intrada in As Melhores Coisas da Vida São de Graça

… caralho que os foda! Questão importante: se os palavrões fazem “parte do vocabulário” e, tal como as outras palavras, servem para comunicar (neste caso sentimentos fortes), porque não usá-los? Toda a gente sabe que não são só as pessoas mal-educadas que dizem asneiras, pois toda a gente as usa, umas com mais frequência e outras com menos.

É verdade que existem muitas palavras, principalmente no calão americano, que não são "aplicadas correctamente" (como bitch, que muitos rappers usam para falar das mulheres, mesmo que não queiram insultá-las), mas isso não se verifica só no rap e não é porque muitos dos MC’s vêm do ghetto que também se justifica isso, mas sim porque têm que ser usadas! Ninguém vai dizer que era melhor tirar o “caganeira” e outros tantos do Auto da Barca do Inferno ou que o Gil Vicente os deveria ter substituído por palavras mais moderadas, portanto porquê a indignação? Será que as mesmas pessoas que criticam o rap por essas razões não vêem filmes norte-americanos? Nem nunca virão uma peça de teatro em que se soltasse uma praga ou obscenidade, nem nunca ouviram fado? E quando acertam com o martelo no dedo, gritam “Meu Deus!”?

Há muita hipocrisia nestas críticas e se esses mesmos hipócritas não se automentalizam, ou mentalizam os seus pais, de que as asneiras existem para serem usadas quando é preciso e que quem lhes dá o valor que têm é a sociedade (não, não têm nenhum poder mágico), estão a cometer uma grande estupidez. Eu não digo que não se deva ter cuidado, porque se exagerar nos palavrões, comete-se três erros: retira-se o impacto que o palavrão tem (se começarmos a ouvir dizer muitas vezes “Filho da puta” aquilo vai criar cada vez menos choque, tal e qual como o “bitch” nos EUA); a linguagem torna-se aborrecida e uma demonstração de violência barata; aparecem lixos semânticos como este: “Fuck me, I’m fucked if I fucking know what to fucking do, the fucking fucker’s fucking fucked up and fucked off” (Your Mother’s Tongue: Book of European Invective de Stephen Burgen).

Finalmente, é importante que as pessoas tenham consciência de que palavras são palavras, quem lhes dá o poder é quem as diz (tal e qual como Vergílio Ferreira e a palavra “inócuo”). Pode-se fazer excelentes poesias com palavrões, assim como o contrário, e por muito que isso impressione muita gente, não devemos limitar o vocabulário à nossa disposição só porque alguns puritanos embirram com uma parte. Por isso a minha mensagem para esses puritanos também é: vão pró caralho!


«É frequentemente verdade que a ordinarice de um homem é o lirismo do outro»

Declaração do Juiz num processo sobre ofensa aos bons costumes
(retirado do livro
A Língua da Tua Mãe, de Stephen Burgen, 1º Ed.)

Existe uma notícia relacionada com o tema, acerca do fundador da Def Jam querer "banir palavras ofensivas" (in Diário de Notícias).

quinta-feira, 31 de maio de 2007

Cultura de Esperança

«Estão a ser criadas condições para acontecer algo de sério muito em breve»

Rui Miguel Abreu in “O Público (14 de Abril de 2002)

O momento crucial chegou em 2004. Correcção: o segundo momento crucial, dez anos depois do primeiro, que veio com a colectânea Rapública e a tão famosa expressão “não sabe nadar”. Numa reportagem d’ O Público, Vítor Belanciano escreveu que “eles acreditam tanto que apetece acreditar com eles”. Para além de uma cultura de resistência, de uma cultura de intervenção, de uma cultura urbana, Hip Hop é uma cultura de esperança. Acreditamos sem restrições, persistindo e mantendo viva a esperança até um dia atingirmos o nosso objectivo: mudar o que há a mudar. Na música, na sociedade, seja onde for. E não se pense que por sermos uma cultura não há divergências (também temos direito a elas). Cada um acredita nas suas perspectivas, com semelhanças aqui e ali, unidos sem ser preciso conhecermo-nos, lutamos para vermos cumpridos e aceitados os nossos princípios, mesmo que muitos dos nossos desejos sejam utópicos.

Apesar de estas duas vagas (uma delas ainda a decorrer) terem tido efeitos visíveis, continuamos sem ver os resultados das versões política e cultural do Hip Hop: não vemos grandes revoluções em Portugal, na música ou na atitude dos portugueses; não vemos grandes apostas das editoras noutros estilos de música nem apoio das pessoas em grupo mais originais. Muitos jovens renderam-se ao rap, mas existe ainda muitos preconceitos e hostilidade em relação a esta cultura (exemplo: a maneira como muitos encaram o graffiti). Apenas alguns indícios, como a mudança em 2004, podem sugerir-nos que um dia o movimento hip hop tuga marcará realmente Portugal.

É por isso que tenho orgulho no espírito que predomina, ainda que às vezes abalado, na versão portuguesa da cultura Hip Hop. Temos muitos nomes, muitos grupos, muitos artistas e não só, que fizeram muito por esta cultura. Uns só contribuiram no início mas não conseguiram aguentar, outros apareceram já depois da old school e, outros, não só suportaram o movimento no seu início, como o apoiaram e resistiram até agora, sem se deixarem corromper. É a esses que dedico este tópico. Obrigado!

«MC's de Portugal, chegou o momento crucial»

Líderes da Nova Mensagem - “O Rap é Uma Potência in Rapública (1994)

Para ver o resto do artigo, vejam no H2Tuga.

terça-feira, 22 de maio de 2007

CR - Cinco Meses Depois...

Aproximadamente cinco meses depois deste blog ter sido criado, posto o segundo tópico do tipo CR para vos relembrar as novidades e fazer o ponto da situação. Publiquei 17 textos, incluindo este, até agora. Aos que não lêem este blog desde o início, aconselho a leitura do outro blog com este rótulo: “CR – A Apresentação”. Em breve estará pronto um anexo com a apresentação, agradecimentos, etc. (ver links pertencentes ao CR).

Já que falo em novos leitores, peço-lhes também que leiam os tópicos mais antigos, pois não estão de certeza muito desactualizados. Tenho tido o cuidado de não pôr títulos artísticos nos tópicos para que se possa perceber facilmente qual o assunto do conteúdo de cada um a partir dos arquivos.

Já que também falei em anexos, alerto-vos para o facto de, para quem ainda não se apercebeu, terem sido criados (e um ou outro ainda em desenvolvimento) anexos (ver secção “Cultura de Resistência” na coluna da direita – coluna dos links). Foi criado um glossário com palavras mais ou menos básicas que servem de ajuda aos iniciados nesta cultura (se é que algum lê este blog). Criei também um Guia de Hip Hop na Internet, que se foca mais nos sites relacionados com o Hip Hop Tuga, e que neste momento ainda está a ser aperfeiçoado. Está a ser criado (mas ainda não está postado) um anexo, como já disse, com a apresentação deste blog, agradecimentos, etc.

Gostaria de realçar o facto de muito destes tópicos terem sido criados com semanas de antecedência e, por isso, alguns acontecimentos que são relatados como recentes não o serem na realidade.

Tenho estado a planear e listar nomes que poderão futuramente ser convidados para escrever um tópico para este blog (tópicos do tipo “Convidado”), como tinha prometido fazer.

Para além dos tópicos, existem muitos conteúdos na barra/coluna da direita, que acredito serem úteis e interessantes: para além dos predefinidos pelo Blogger (o servidor deste blog), como o meu perfil e os arquivos, existem outras ferramentas, como o Relógio e a Pesquisa. Mas não são estes aqueles para os quais quero-vos chamar a atenção, mas antes estes: a “Citação do Mês”, que no princípio não tinha nenhuma condição (a não ser ter que ser relacionada com o Hip Hop, claro), mas agora é actualizada (com um atraso no máximo de uns meses); a Playlist, com muitas músicas, tanto portuguesas como estrangeiras, de hip hop; a secção do vídeo, mudada de tempos em tempos (normalmente seleccionado entre os últimos que saíram) e com um link para o canal do CR no YouTube; as várias secções dos links, desde sites a blogs, editoras, páginas pessoais, locais que acolhem artistas da nossa cultura com frequência, etc.; links para videoclips e outros vídeos (quase todos do YouTube) de que eu gostei (estas secções são actualizadas com frequência) – os vídeos dos respectivos links são dos anos 2006 e 2007; os serviços que este blog disponibiliza, como divulgação de eventos, grupos, concursos, etc. podem ser lidos em baixo de tudo (inscrevam-se na newsletter). Ah, e também existe uma secção de publicidade, recentemente mudada para mais perto do topo, com banners de sites que o CR aprova.

Por isso, repito, o CR disponibiliza-se para divulgar todo o tipo de eventos, grupos, novidades, concursos, desde que estejam relacionados com esta cultura, de preferência na sua versão portuguesa.

Já agora, tenho, desde o princípio, e provavelmente já repararam (ou então não prestam atenção, hmm!), que em muitos dos tópicos eu ponho citações. Provavelmente para muitos será um hábito irritante, que eu admito que talvez seja um bocado. Mas para que possam tolerar melhor esta mania, vou-vos explicar quais são os meus objectivos. Não é gabar-me da minha sabedoria (que na realidade não tenho), mas sim fazer ver às pessoas que: 1- as letras de hip hop português merecem ser ouvidas); 2- muitos dos temas de que eu falo (ou melhor, que escrevo) aqui no blog são tratados nas músicas também; 3- eu não invento teorias/filosofias ou justificações do nada, mas antes que vou recolhendo bocados daqui e dali e juntá-los e moldá-los com aquilo que eu próprio penso; 4- existem muitos que concordam com o ponto que estou a referir (ainda que eu ache que isso não deva ter impacto na opinião das pessoas).

Podem ter sido introduzidas, e muitas vezes esse é um dos propósitos, servir como um resumo muito curto do assunto que eu vou falar (tal como aqueles subtítulos dos jornais). Além disso, há a razão mais óbvia, que é a citação ter-me inspirado para escrever o tópico. Para o caso de as citações não terem sido retiradas de músicas ou proferidas por qualquer pessoa ligada ao Hip Hop, apenas o primeiro e segundo ponto não se aplicam.

Também quero prevenir-vos de que eu não sou nenhum expert em cultura Hip Hop, nem os textos reflectem isso. Posso não ser propriamente um iniciado, mas também não me considero muito mais. É, por isso, natural que possam encontrar erros nos meus tópicos e, caso o façam, eu acolherei os vossos avisos com gosto e corrigirei caso concorde convosco.

Apelo outra vez à vossa piedade para que deixem um comentário no caso de acharem que podem fazer uma crítica pertinente ou acrescentar algo. Escrevi no tópico anterior (deste tipo) que preferia comentários sobre o tópico em si a elogios. Ora isto, ainda em que seja verdade, não quero que seja mal entendido. Não censuro ninguém se postarem um comentário apenas para elogiar-me, agradeço imenso, apenas quero pedir-vos que não se limitem a isso, principalmente aqueles que não têm outros blogs (senão até parece mal, como um músico em que o público é exclusivamente constituído pelos amigos dele).

Aproveito para dizer que em breve irei postar um novo tópico deste tipo para agradecer a todos os que me apoiaram, mas como este blog ainda é recente provavelmente ainda vai haver muitas pessoas, espero, a quem eu vou precisar de agradecer, por isso só irá ser postado daqui uns meses.

Para fazer o ponto de situação mais facilmente, fiz um questionário a que gostava que me respondessem e enviassem para o meu e-mail (ou então as respostas podem ser inseridas num comentário a este tópico):

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QUESTIONÁRIO

1- Estás satisfeito com a diversidade/qualidade dos assuntos que são aqui tratados?
2- O que achas do regime de postagem (número de posts por mês)?
3- Qual é a tua opinião sobre a filosofia deste blog?
4- Comenta cada uma destas secções:

- a)Playlist;
- b)Vídeo e o Canal CR no YouTube;
- c)Anexos (Guia e Glossário);
- d)Links (Hip Hop Português, Editoras & Lojas, Blogs, Páginas Pessoais, Concursos, Locais, Diversos)
- e)Links para vídeos (Videoclips portugueses, Videoclips estrangeiros, Vídeos sobre Graffiti, Vídeos sobre Breakdance, Outros Vídeos)
- f)Serviços

5- Que conclusões tiras sobre a veracidade da informação que foi dada aqui?
6- Qual é a tua opinião acerca das citações muitas vezes acopladas aos textos?
7- Tens mais algum comentário a fazer?

Queria informar-vos melhor, para o caso de ainda não terem entendido bem, a filosofia deste blog: não estou interessado em falar só de assuntos recentes (apesar de também não os pôr de parte) nem em escrever sobre matérias mais pessoais, mas sim em tratar temas que interessam, sobre os quais se possa reflectir e formar a nossa opinião (não quero pôr em causa os factos mas sim as ideias), relacionados com o Hip Hop. Resumindo, obrigar-vos a pensar sobre esta cultura.

Estou também preocupado com a coluna da direita porque o meu irmão disse-me que achava que aquilo tinha para lá muita tralha que não tinha interesse, ou que então deveria passar para um dos anexos. Mas isso é a opinião dele. Obrigado pela vossa atenção. Já sabem: comentem e esclareçam!

terça-feira, 8 de maio de 2007

A Verdade Que Muitos Não Dizem

«Vocês são os primeiros responsáveis pela destruição da música»

Valete - Pela Música Parte 1 in Serviço Público (2006)

Começo logo ao ataque: existem muitas pessoas (que vão desde MC’s do underground até aos já tão criticados utilizadores de fóruns de hip hop português) que têm uma atitude muito estranha: dizem coisas do género “eu digo tudo na cara” e “eu digo sempre a verdade” mas quando outra pessoa realmente diz a verdade ficam chocados. Porquê? Pura hipocrisia. O caso particular que me inspirou para este tópico foi o do Valete, resumido por estas duas citações acopladas ao texto (mas convêm ouvir melhor a música).

A faixa, de nome “Pela Música Parte 1”, ataca vários grupos que prejudicam esta arte, os quais vão desde os simples ouvintes à comunicação social. O facto de não estar em verso permitiu uma maior crueza, que não seria possível em forma de poesia. Isto não tem nada de mal, antes merece parabéns, já que releva aquilo que o autor realmente pensa. No entanto, há quem não tenha suficiente coragem...

Esses MC's, ou quaisquer outras pessoas que adoptem essa hipocrisia, não cumprem a regra de ouro, então nem sequer deveriam criticar quem a cumpre. Não deveria haver espanto ou choque, e eu pessoalmente aplaudo o discurso do Valete.

«Alguns manos que já me conhecem e já me tinham ouvido dizer coisas parecidas ficaram chocados porque eu pus aquilo no álbum»

Valete - Entrevista do H2Tuga (2006)

sábado, 28 de abril de 2007

Morto?

«It's a pretty good chance you're the reason it died, man»

Nas - Hope in Hip Hop Is Dead (2006)

Já devem ter reparado que anda a passar, já há algum tempo, o single “Hip Hop Is Dead” de Nas, que dá nome ao último álbum do autor. Aproveito para dizer que tanto o beat (da autoria de Will.i.am) como a letra estão, como é habitual na discografia deste artista, excelentes. Todo o CD ronda à volta do assunto da comercialização do Hip Hop e naquilo que se tornou nos dias de hoje (em particular nos Estados Unidos). “Who Killed It?” e “Hope” são outras faixas que provam isso (e igualmente aconselháveis).

Mas vamos à temática: Nas aborda, descreve e critica a fusão do Hip Hop com a indústria (em excesso), que é uma preocupação que é também válida noutros países, como a França, Alemanha, Inglaterra, etc. Em Portugal acho que não se verifica uma situação tão grave, apesar de não haver dúvidas de que o Hip Hop já está na moda. Mas, mais do que a questão das editoras, a parte mais preocupante é a atitude dos artistas.

Concentremo-nos no estado da cultura nos EUA: o Hip Hop está em alta, vende milhões e compete com outros géneros musicais poderosos como o Pop e o Metal; rappers que anteriormente viviam no ghetto agora vivem em grandes casas e fundam majors que os tornam ainda mais ricos; esta situação é real já há algum tempo, o que deu tempo para o mercado se habituar. Resultado: a indústria da música define o Hip Hop como uma prioridade e encara-o como uma mina de ouro; os rappers que anteriormente falavam dos ghettos onde viviam, agora falam dos casarões onde vivem; a criação de editoras por parte dos mesmos reforça a monopolização do mercado. Não se surpreendam portanto por verem rappers a exibirem dentes e colares de ouro, sentados em limusines a beber vinho de boa colheita, pois a vida deles agora é mesmo assim. É legítimo que eles esvaziem a cultura de todo o seu conteúdo positivo e a usem em proveito próprio? Não. Ainda que eles possam ter percorrido o caminho até ao sucesso sem nada a condenar (ou talvez não), isso não lhes dá o direito de parar de contestar e de denunciar e passarem a falar da boa vida que levam. Enquanto ricos, têm muito mais oportunidades para apoiarem o movimento, que era o que deveriam fazer, em vez de o destruírem e “sujarem” com a pura exploração que fazem dos seus fãs. A metáfora é usada para exprimir isto tudo, quando o Hip Hop deixa de ser Hip Hop, ou seja, “morre”, porque ele nunca terá como lema “bebam, tomem drogas, façam sexo” (50 Cent).

Todo este drama é lamentável, e espero que não aconteça o mesmo em Portugal (o facto de sermos um país pequeno ajuda-nos neste caso). O Hip Hop está morto? Não. Quanto muito poderia dizer-se que nos EUA está em “estado de coma”. Mas enquanto existirem pessoas como Nas, KRS-One, Immortal Technique e outros tantos, o Hip Hop americano não morrerá, e muito menos nos outros países.

«If hip hop should die we die together»

Nas - Hip Hop Is Dead in Hip Hop Is Dead (2006)

Para saber mais sobre este assunto, vejam o artigo do Hip Hop DX.

quinta-feira, 19 de abril de 2007

Quando foi?

É estranho como acabamos por nos esquecer da primeira vez de (quase) tudo. Ah, lá estou lá eu a divagar. Relativamente ao hip hop tuga, diria que comecei a ouvir há uns seis anos (por volta de 2001). Falo do hip hop tuga, porque o hip hop em geral foi quando andava na escola primária, houve aquela primeira onda do Eminem. A esse, só lhe agradeço a divulgação (é uma das poucas vantagens de estar na moda), porque tenho muitas mais razões para o insultar. Acho que o grande ídolo do rap, aquele que realmente me marcou, foi o Gabriel o Pensador, com o seu EP, que tenho um original cá em casa, cortesia do meu pai. Também foi da cortesia do meu pai o original da colectânea Rapública, mas na altura ela não me despertou curiosidade (também não sabia o que simbolizava). Para vos dar um exemplo dos efeitos do “Gabriel, o Pensador”, lembro-me que com apenas 11 anos escrevi um poema baseado na música “Retrato de Um Playboy (Juventude Perdida)”, com um título ligeiramente diferente (calma, não comecem a chamar-me fake) mas sem qualquer semelhança no conteúdo (claro está, muito pior).

Nessa primeira fase, acreditem ou não, não me lembro de outros rappers que ouvisse, para além de Eminem (e Dr. Dre e companhia, obviamente) e o grande Gabriel (talvez mais alguns americanos). No quarto ano descobri o hip hop tuga. A primeira imagem que tenho (mas que pode ser enganadora) é a de estar a ouvir uma cópia do EP dos Guardiões de Subsolo (a quem agradeço). Quanto ao resto já falei aqui: Sam The Kid, Mind Da Gap, Boss AC, Da Weasel, etc. O que importa relatar é que continuo a gostar da música deles (e de outros que entretanto descobri).

O facto de ter começado a ouvir hip hop na escola primária (quem ler isto até pensa que vivo num ghetto) fez-me ter um conhecimento do hip hop português que não poderia nunca obter de outra forma. Consigo ver pelos fóruns da Internet sobre hip hop que esta moda (“falsa moda”) foi fulcral para arranjar novos adeptos (basta ver o número de pessoas que começaram a ouvir desde à três anos para cá). Nunca poderão saber como era o hip hop antes desta mais recente onda, assim como eu nunca poderei saber como era a old school aqui, já que estava virado para outras nacionalidades na altura (para além de ser um iniciado). Com tudo isto, lamento ainda não me ter envolvido (mas não perco a esperança) em alguma crew ou grupo de pessoas que realmente gostassem de hip hop (sempre achei que isso era difícil em Braga, apesar de nestes últimos meses se ter provado que estava enganado).

Façam agora esta pergunta a vocês mesmos e comentem aqui no blog quando foi e, já agora, como foi a primeira vez que estabeleceram contacto com esta cultura, seja através do rap, breakdance, graffiti ou qualquer outra vertente.

sábado, 7 de abril de 2007

Mania dos Melhores

Algo aborrecido em alguns dos fóruns de hip hop, os quais reflectem a mentalidade de alguns ouvintes de hip hop português, é a constante procura do melhor MC ou DJ neste aspecto ou naquele. Isso é entediante, não só porque se criam trinta tópicos com essas merdas mas também porque nunca se chega a uma conclusão. A conclusão de não haver conclusão (não se baralhem) é que é muito difícil chegar a esta.

A característica mais bizarra é que, muito estupidamente (estou a perder os poucos leitores deste blog), os criadores dos tópicos não pedem “diz-me os 30 melhores MC’s de Portugal” mas sim “diz-me qual achas que é o Melhor MC de Portugal”! Isto leva a deduzir que o causador desta idiotice tinha a suposição, muito ingénua (e arrogante), de que é possível reduzir uma cultura já muito grande e diversificada, que foi sendo construída ao longo de mais de uma década, a uma única personagem, que representaria o movimento de rap português na perfeição. O pressuposto demonstra a incapacidade destas pessoas de perceberem que o rap (aliás, muitos generalizam para o hip hop) tem imensas facetas e que já é muito difícil reduzi-lo a 30 pessoas, quanto mais a uma única! Vá lá, que alguns especificam qual a habilidade que preferem que se realce (flow, mensagem, …), mas mesmo assim…

Compreendam que dá para chegar ao melhor, ou pelo menos aos cinco melhores, mas isso é o que é feito nos concursos desse tipo, e são eleitos júris qualificados para tal, agora perguntem-se porquê... ou consideram-se sábios incontestáveis na matéria?! Resumindo, cada um pode fazer o que lhe dá na tola nos fóruns (desde que não infrinja as regras), mas depois não se espantem se descerem uns pontinhos na consideração dos outros utilizadores...

Neste texto, falo dos melhores, e não dos favoritos, já que há uma diferença, ainda que relativa. Favoritos, toda a gente tem, mas para isso é necessário algo mais que simplesmente os skills habitualmente julgados. Quando começamos a falar de favoritos, falamos de gostos, e gostos são gostos.

NOTA: Peço desculpa aos leitores porque este tópico estava anexado a outro (que irá mais tarde ser postado), mas eu à última da hora decidi separá-los, por isso ficou um bocado pequeno, além de que já devia ter sido postado ontem. No entanto, acredito que este assunto, só por si, já justifica um lugar aqui no blog, pois há muitos lados por onde ver o assunto. Reflictam nele e comentem (e esclareçam)!

quarta-feira, 28 de março de 2007

Abrindo os Horizontes - 3

«E não é menos Hip Hop só porque falas de mulheres»

Boss AC - Hip Hop (Sou Eu e És Tu) in RAP - Ritmo, Amor e Palavras (2005)


Terceira e última parte deste sermão sobre diversidade musical: desta vez, dentro do próprio hip hop português. Vou-vos dar uns nomes, que certamente muitos de vocês já conhecem: Dealema, Sam The Kid, Mundo Complexo, Valete, Regula, Mind Da Gap, Dupla Consciência, Lancelot, Micro, Adamastor e Suarez. Para quem conhecer um pouco melhor esta cultura, pode estabelecer aqui algumas ligações: Dealema e Mind Da Gap, Sam The Kid e Regula, Valete e Adamastor. Os outros não têm uma relação directa entre eles (não quer dizer que nunca se tenham juntado para fazer algum trabalho, mas antes que o estilo é diferente). Esta “salada” (penso que foi o Buddah que lhe chamou assim) é uma virtude para o hip hop tuga, significa que não se copiam todos uns aos outros e que há muita criatividade envolvida.

Mas há quem despreze este valor positivo. Chamo-lhes conservadores porque acham que o hip hop devia estar sujeito a uma quantidade muito maior de regras do que está na realidade. Os conservadores do tipo fanático acham que o hip hop devia falar estritamente de consciência social, enquanto que os do tipo leigo preferem os temas amorosos, sobre mulheres e festas. Nem oito nem oitenta. Chamo-lhes ignorantes porque é isso que fazem: ignoram partes da história desta cultura e esquecem algo muito importante, que é o espírito africano. Ele (ainda) persiste e está entranhado no hip hop e está relacionado com um ritmo muito especial. Isso, combinado à situação primitiva de muitos imigrantes nos anos 70, é que deu o gosto muito singular que é a essência dele. Claro que entretanto sofreu muitos processos de transformação, mas esses só trouxeram ainda mais variedade e alargaram os limites deste universo.

Então, não acham pouco razoável que se cultive uma adoração aos Dealema e Sam The Kid e se deixe outros para trás, sejam os Dupla Consciência ou os Mundo Complexo, apenas porque apostaram em estilos ainda pouco habituais? Toda a gente tem direito a não gostar de um ou outro grupo, porque não sente a música ou não se identifica com a mensagem, mas não censurem uns por quererem deixar a sua marca de um modo peculiar. Não vale a pena acreditar na revolução se depois até na música se é conservador.

Deixo aqui outra citação, para contrastar com a primeira. Nem oito nem oitenta”.

«- Agora o pessoal quer curtir é festas, man!
- Ah é?
- Eh pá, faz sons do género: “Vamos curtir, ei, vamos dançar, ei!”. 'Tás a ver? Assim coisas do género, tipo p'rás mulheres também saltarem, ver as tangas no ar e sutiãs e coisas do género, 'tás a ver?
- 'Tou a ver.
(Valete desliga o telemóvel)
- Tss. Cabrões do carago...»
Diálogo entre Valete eadmirador fictício - Coisas do Género in Serviço Público