sábado, 28 de abril de 2007

Morto?

«It's a pretty good chance you're the reason it died, man»

Nas - Hope in Hip Hop Is Dead (2006)

Já devem ter reparado que anda a passar, já há algum tempo, o single “Hip Hop Is Dead” de Nas, que dá nome ao último álbum do autor. Aproveito para dizer que tanto o beat (da autoria de Will.i.am) como a letra estão, como é habitual na discografia deste artista, excelentes. Todo o CD ronda à volta do assunto da comercialização do Hip Hop e naquilo que se tornou nos dias de hoje (em particular nos Estados Unidos). “Who Killed It?” e “Hope” são outras faixas que provam isso (e igualmente aconselháveis).

Mas vamos à temática: Nas aborda, descreve e critica a fusão do Hip Hop com a indústria (em excesso), que é uma preocupação que é também válida noutros países, como a França, Alemanha, Inglaterra, etc. Em Portugal acho que não se verifica uma situação tão grave, apesar de não haver dúvidas de que o Hip Hop já está na moda. Mas, mais do que a questão das editoras, a parte mais preocupante é a atitude dos artistas.

Concentremo-nos no estado da cultura nos EUA: o Hip Hop está em alta, vende milhões e compete com outros géneros musicais poderosos como o Pop e o Metal; rappers que anteriormente viviam no ghetto agora vivem em grandes casas e fundam majors que os tornam ainda mais ricos; esta situação é real já há algum tempo, o que deu tempo para o mercado se habituar. Resultado: a indústria da música define o Hip Hop como uma prioridade e encara-o como uma mina de ouro; os rappers que anteriormente falavam dos ghettos onde viviam, agora falam dos casarões onde vivem; a criação de editoras por parte dos mesmos reforça a monopolização do mercado. Não se surpreendam portanto por verem rappers a exibirem dentes e colares de ouro, sentados em limusines a beber vinho de boa colheita, pois a vida deles agora é mesmo assim. É legítimo que eles esvaziem a cultura de todo o seu conteúdo positivo e a usem em proveito próprio? Não. Ainda que eles possam ter percorrido o caminho até ao sucesso sem nada a condenar (ou talvez não), isso não lhes dá o direito de parar de contestar e de denunciar e passarem a falar da boa vida que levam. Enquanto ricos, têm muito mais oportunidades para apoiarem o movimento, que era o que deveriam fazer, em vez de o destruírem e “sujarem” com a pura exploração que fazem dos seus fãs. A metáfora é usada para exprimir isto tudo, quando o Hip Hop deixa de ser Hip Hop, ou seja, “morre”, porque ele nunca terá como lema “bebam, tomem drogas, façam sexo” (50 Cent).

Todo este drama é lamentável, e espero que não aconteça o mesmo em Portugal (o facto de sermos um país pequeno ajuda-nos neste caso). O Hip Hop está morto? Não. Quanto muito poderia dizer-se que nos EUA está em “estado de coma”. Mas enquanto existirem pessoas como Nas, KRS-One, Immortal Technique e outros tantos, o Hip Hop americano não morrerá, e muito menos nos outros países.

«If hip hop should die we die together»

Nas - Hip Hop Is Dead in Hip Hop Is Dead (2006)

Para saber mais sobre este assunto, vejam o artigo do Hip Hop DX.

quinta-feira, 19 de abril de 2007

Quando foi?

É estranho como acabamos por nos esquecer da primeira vez de (quase) tudo. Ah, lá estou lá eu a divagar. Relativamente ao hip hop tuga, diria que comecei a ouvir há uns seis anos (por volta de 2001). Falo do hip hop tuga, porque o hip hop em geral foi quando andava na escola primária, houve aquela primeira onda do Eminem. A esse, só lhe agradeço a divulgação (é uma das poucas vantagens de estar na moda), porque tenho muitas mais razões para o insultar. Acho que o grande ídolo do rap, aquele que realmente me marcou, foi o Gabriel o Pensador, com o seu EP, que tenho um original cá em casa, cortesia do meu pai. Também foi da cortesia do meu pai o original da colectânea Rapública, mas na altura ela não me despertou curiosidade (também não sabia o que simbolizava). Para vos dar um exemplo dos efeitos do “Gabriel, o Pensador”, lembro-me que com apenas 11 anos escrevi um poema baseado na música “Retrato de Um Playboy (Juventude Perdida)”, com um título ligeiramente diferente (calma, não comecem a chamar-me fake) mas sem qualquer semelhança no conteúdo (claro está, muito pior).

Nessa primeira fase, acreditem ou não, não me lembro de outros rappers que ouvisse, para além de Eminem (e Dr. Dre e companhia, obviamente) e o grande Gabriel (talvez mais alguns americanos). No quarto ano descobri o hip hop tuga. A primeira imagem que tenho (mas que pode ser enganadora) é a de estar a ouvir uma cópia do EP dos Guardiões de Subsolo (a quem agradeço). Quanto ao resto já falei aqui: Sam The Kid, Mind Da Gap, Boss AC, Da Weasel, etc. O que importa relatar é que continuo a gostar da música deles (e de outros que entretanto descobri).

O facto de ter começado a ouvir hip hop na escola primária (quem ler isto até pensa que vivo num ghetto) fez-me ter um conhecimento do hip hop português que não poderia nunca obter de outra forma. Consigo ver pelos fóruns da Internet sobre hip hop que esta moda (“falsa moda”) foi fulcral para arranjar novos adeptos (basta ver o número de pessoas que começaram a ouvir desde à três anos para cá). Nunca poderão saber como era o hip hop antes desta mais recente onda, assim como eu nunca poderei saber como era a old school aqui, já que estava virado para outras nacionalidades na altura (para além de ser um iniciado). Com tudo isto, lamento ainda não me ter envolvido (mas não perco a esperança) em alguma crew ou grupo de pessoas que realmente gostassem de hip hop (sempre achei que isso era difícil em Braga, apesar de nestes últimos meses se ter provado que estava enganado).

Façam agora esta pergunta a vocês mesmos e comentem aqui no blog quando foi e, já agora, como foi a primeira vez que estabeleceram contacto com esta cultura, seja através do rap, breakdance, graffiti ou qualquer outra vertente.

sábado, 7 de abril de 2007

Mania dos Melhores

Algo aborrecido em alguns dos fóruns de hip hop, os quais reflectem a mentalidade de alguns ouvintes de hip hop português, é a constante procura do melhor MC ou DJ neste aspecto ou naquele. Isso é entediante, não só porque se criam trinta tópicos com essas merdas mas também porque nunca se chega a uma conclusão. A conclusão de não haver conclusão (não se baralhem) é que é muito difícil chegar a esta.

A característica mais bizarra é que, muito estupidamente (estou a perder os poucos leitores deste blog), os criadores dos tópicos não pedem “diz-me os 30 melhores MC’s de Portugal” mas sim “diz-me qual achas que é o Melhor MC de Portugal”! Isto leva a deduzir que o causador desta idiotice tinha a suposição, muito ingénua (e arrogante), de que é possível reduzir uma cultura já muito grande e diversificada, que foi sendo construída ao longo de mais de uma década, a uma única personagem, que representaria o movimento de rap português na perfeição. O pressuposto demonstra a incapacidade destas pessoas de perceberem que o rap (aliás, muitos generalizam para o hip hop) tem imensas facetas e que já é muito difícil reduzi-lo a 30 pessoas, quanto mais a uma única! Vá lá, que alguns especificam qual a habilidade que preferem que se realce (flow, mensagem, …), mas mesmo assim…

Compreendam que dá para chegar ao melhor, ou pelo menos aos cinco melhores, mas isso é o que é feito nos concursos desse tipo, e são eleitos júris qualificados para tal, agora perguntem-se porquê... ou consideram-se sábios incontestáveis na matéria?! Resumindo, cada um pode fazer o que lhe dá na tola nos fóruns (desde que não infrinja as regras), mas depois não se espantem se descerem uns pontinhos na consideração dos outros utilizadores...

Neste texto, falo dos melhores, e não dos favoritos, já que há uma diferença, ainda que relativa. Favoritos, toda a gente tem, mas para isso é necessário algo mais que simplesmente os skills habitualmente julgados. Quando começamos a falar de favoritos, falamos de gostos, e gostos são gostos.

NOTA: Peço desculpa aos leitores porque este tópico estava anexado a outro (que irá mais tarde ser postado), mas eu à última da hora decidi separá-los, por isso ficou um bocado pequeno, além de que já devia ter sido postado ontem. No entanto, acredito que este assunto, só por si, já justifica um lugar aqui no blog, pois há muitos lados por onde ver o assunto. Reflictam nele e comentem (e esclareçam)!