quarta-feira, 31 de outubro de 2007

Álbuns de Instrumentais

Queira-se ou não, em Portugal o Hip Hop ainda não é muito bem recebido (comparativamente com outros países), seja qual for a vertente, e principalmente pelas faixas etárias mais altas. Tocam mais aos adultos os instrumentais do que as letras, tal e qual como aos críticos.

Tomemos como exemplo o Sam The Kid: quando comecei a ouvir a música dele, o que me chamava mais a atenção eram as letras, não os beats, porque não percebia o suficiente sobre Hip Hop para os apreciar. Assim, tenho como mais antiga a imagem do STK como um grande MC do que como um grande produtor. Claro que, como entretanto aprendi mais sobre a cultura e a vertente musical, agora sempre que se fala nele associo-o às duas imagens.

No entanto, tanto dentro da pequena comunidade que apoia o movimento como o grande público tem nitidamente mais em estima o STK como produtor do que o STK como MC. As críticas nos jornais sobre o seu último álbum são constituídas por 90% de material referente às produções e uns escassos 10% sobre as letras. O único álbum de instrumentais dele conquistou muitos mais admiradores adultos do que os CDs anteriores. Isto pode ser injusto, mas nunca ninguém disse que a verdade é justa.

Os álbuns instrumentais são, portanto, extremamente importantes para o Hip Hop crescer e lá fora eles saem com grande frequência, tanto como novidades como em versões com beats de álbuns de rap, sendo os principais autores produtores e DJ’s, como o DJ Premier, Madlib ou DJ Shadow.

Cá na tuga o número é pequeno, mas aqui ficam alguns bons exemplos:

- Sam The Kid - “Beats Vol.1 - Amor” (2002)
- Colectânea “Loop:Agents - Beat Generation” (2004)
- Fuse - “Inspector Mórbido - Instrumentais” (2004)
- D-Mars aka Rocky Marsiano – “The Pyramid Sessions” (2006)


Podem ler sobre um assunto relacionado com este no blog da Horizontal, procurem um post chamado “Beat-Hoppers” (postado a 27 de Dezembro de 2006).

domingo, 21 de outubro de 2007

Respeito Mútuo

«Essa é a primeira mudança»

Tranquilo (Mundo Complexo) in showcase da FNAC NorteShopping (06/05/2007)

Qual? O respeito. Brigas entre Norte e Sul, beefs que olhos mórbidos exploram, muitas críticas sem justificação. Ganhámos alguma coisa com isso? Penso que não. Mesmo que os beefs possam ter um efeito positivo, por darem pica, há sempre um lado mau. Qualquer um pode ir a um fórum da Internet sobre hip hop e facilmente encontrará um tópico sobre um beef qualquer, um texto em que denigrem a imagem de alguém, muitas vezes com base em boatos que posteriormente se verificam serem falsos.

Para quem não faz nada e tem muito tempo, isto é o pão de cada dia. Para os maus MCs que não têm nada para dizer, isto é o tema de cada uma das suas letras (mesmo que eles não estejam envolvidos em nenhuns beefs!). Proponho que se mudem essas mentalidades: respeitar ou não alguém não é determinado (ou não devia ser) pela simpatia que nutrimos por essa pessoa. Eu até posso não gostar do trabalho de um artista mas admitir que ele é de boa qualidade. Isto não é uma contradição. Uma coisa é uma pessoa perceber, outra coisa é uma pessoa sentir e identificar-se.

Portugal já provou ter bons MCs vindos do Norte, Centro ou Sul. Já provou que MCs que não se dão bem podem progredir na mesma sem se andarem a pisar um ao outro. Sabem, pode-se argumentar contra as acções de alguém sem o insultar. Pode-se criticar para corrigir em vez de criticar para denegrir.

Fica aqui uma sábia frase para memorizar (no suporte auditivo com o belo sotaque do Norte).

«Na minha perspectiva não se pode criticar o toy pela negativa, porque se não houvesse toys não havia pros, todos os bons já foram toys e alguns ainda são ascendentes a pros»

Chemega - L.U.V.'s in Pa'trástoplay No Teu Melão (2001)

domingo, 14 de outubro de 2007

Polémica - Underground vs Comercial

«Putos fazem um disco e já lhe chamam de carreira»

Pacman (Da Weasel) - “Amor, Escárnio e Maldizer in Amor, Escárnio e Maldizer (2007)

Este assunto já está mais que badalado, como vocês sabem. Mas é por isso que o classifico como polémica, porque tanto trabalho ainda não fez, parece-me a mim, muitas pessoas chegarem a uma conclusão satisfatória.

Esta ideia de anti-comercial está profundamente intrínseca na cultura hip hop tuga e é levada por muitos até ao extremo, criando uma paranóia de modo algum justificada, e que só contribuiu para boatos, comentários de mau gosto e até mesmo insultos. Esta confusão toda está também presente na Internet (e bem!) e eu próprio fui afectado por esta perseguição a tudo o que é (e muitas vezes não é) mainstream. Como em tudo, isto tem o lado bom e o lado mau: a capacidade crítica desenvolve-se, passamos a olhar mais desconfiadamente (mais atentamente, se preferirem um eufemismo) para o que é feito na tuga, mas também ficamos com o instinto de rejeitar tudo o que for mais ortodoxo, mesmo que não haja causa para isso.

Vamos por partes: o comercial é mau porque as pessoas normalmente só pensam no dinheiro ou na fama, porque distorcem a mensagem que o movimento hip hop tuga quer passar; por oposição, o underground é bom porque não há a manipulação do dinheiro e as coisas saem mais de dentro. Não acham isto demasiado simples?

E se acrescentarmos isto: o comercial ajuda a que o hip hop atinja o grande público e tenha maior divulgação, não sendo necessário para isso que os artistas se vendam; o underground pode ter todas as qualidades referidas, mas é constituído por uma minoria que percebe, tem experiência e princípios bem definidos e uma maioria que, muitas vezes: é iniciante mas muito ambiciosa, pouco paciente e pouco trabalhadora; explora o público a que chega com mensagens do género “nós do underground é que somos bons”; é constituída por falhados, pessoas que não têm nada para dizer ou só querem “espicaçar” os outros. Percebem agora onde eu quero chegar?

Com este texto eu apenas quero alertar para que o hip hop, tal como o mundo, não se divide em preto e branco: o que é famoso e se vende bem pode não ser tão mau como pensavam e o que é underground pode não ser tão bom. Mas não retirem daqui o que não disse: não defendo todo o comercial e não acho que ter uma maior divulgação seja uma justificação válida para fazer músicas vendáveis. Num movimento onde as pessoas que pensam ter liberdade andam por aí a gritar “underground” (tipicamente manipuladas pela referida maioria), eu prefiro o melhor dos dois lados.