domingo, 14 de outubro de 2007

Polémica - Underground vs Comercial

«Putos fazem um disco e já lhe chamam de carreira»

Pacman (Da Weasel) - “Amor, Escárnio e Maldizer in Amor, Escárnio e Maldizer (2007)

Este assunto já está mais que badalado, como vocês sabem. Mas é por isso que o classifico como polémica, porque tanto trabalho ainda não fez, parece-me a mim, muitas pessoas chegarem a uma conclusão satisfatória.

Esta ideia de anti-comercial está profundamente intrínseca na cultura hip hop tuga e é levada por muitos até ao extremo, criando uma paranóia de modo algum justificada, e que só contribuiu para boatos, comentários de mau gosto e até mesmo insultos. Esta confusão toda está também presente na Internet (e bem!) e eu próprio fui afectado por esta perseguição a tudo o que é (e muitas vezes não é) mainstream. Como em tudo, isto tem o lado bom e o lado mau: a capacidade crítica desenvolve-se, passamos a olhar mais desconfiadamente (mais atentamente, se preferirem um eufemismo) para o que é feito na tuga, mas também ficamos com o instinto de rejeitar tudo o que for mais ortodoxo, mesmo que não haja causa para isso.

Vamos por partes: o comercial é mau porque as pessoas normalmente só pensam no dinheiro ou na fama, porque distorcem a mensagem que o movimento hip hop tuga quer passar; por oposição, o underground é bom porque não há a manipulação do dinheiro e as coisas saem mais de dentro. Não acham isto demasiado simples?

E se acrescentarmos isto: o comercial ajuda a que o hip hop atinja o grande público e tenha maior divulgação, não sendo necessário para isso que os artistas se vendam; o underground pode ter todas as qualidades referidas, mas é constituído por uma minoria que percebe, tem experiência e princípios bem definidos e uma maioria que, muitas vezes: é iniciante mas muito ambiciosa, pouco paciente e pouco trabalhadora; explora o público a que chega com mensagens do género “nós do underground é que somos bons”; é constituída por falhados, pessoas que não têm nada para dizer ou só querem “espicaçar” os outros. Percebem agora onde eu quero chegar?

Com este texto eu apenas quero alertar para que o hip hop, tal como o mundo, não se divide em preto e branco: o que é famoso e se vende bem pode não ser tão mau como pensavam e o que é underground pode não ser tão bom. Mas não retirem daqui o que não disse: não defendo todo o comercial e não acho que ter uma maior divulgação seja uma justificação válida para fazer músicas vendáveis. Num movimento onde as pessoas que pensam ter liberdade andam por aí a gritar “underground” (tipicamente manipuladas pela referida maioria), eu prefiro o melhor dos dois lados.

1 comentário:

O Bom. disse...

amén a isso.

nada é a preto e branco, nem no hip hop (cultura que não domino) nem em qualquer outro género.

aconteceu o mesmo com o trip hop (seja lá o que isso for haha), que muitos disseram estar-se a tornar "comercial" só por se tornar mais conhecido.

Parece que muitos têm o complexo do "eu conheci primeiro" e como já toda a gente gosta, a coisa torna-se má.

A música não serve para fazer sentir alguns cultos. A música não é para connaisseurs, é para todos.

Não serve para inflar o ego a alguns, sob o pretexto de serem ecléticos, serve para ser apreciada.

E pode ser boa ou má.


Se vende ou não vende, se passa na MTV ou não, caguei.

Bem escrito.