«É claro que o Hiphop é um contexto muito masculino e em que as mulheres são uma minoria que ainda procura o seu espaço, mas acreditamos que à medida que forem aparecendo mais mulheres, muitas outras seguirão o exemplo, da mesma forma que se a qualidade do que é feito for também aumentando, a têndencia é para que melhore cada vez mais.»
O que me inspirou a escrever este artigo foi o lançamento da Mixtape “Martataca” da MC M7. Soube desta notícia a partir do blog da Nicolau. Fiquei também a saber que esta pertencia a um grupo, Sygyzy, constituído por quatro elementos: duas MC’s, uma cantora e um DJ (coitado do gajo… ou talvez não lol). A outra MC, de nome Capicua, tinha lançado por sua vez o “Capicua Goes Preemo Vol.1” em finais de 2008. Bem, de tudo isto, a única coisa que eu já tinha ouvido falar era do nome do grupo. E isto porque vi o banner no H2Tuga (nem sequer sabia que tinha esta característica especial de incluir MC’s femininas). Isto porque, como vos disse no post anterior, durante os últimos dois anos, dois anos e meio, estive praticamente só concentrado na cena internacional (nomeadamente norte-americana). Aproveito para comentar que 2008 foi um ano em cheio em termos de lançamentos.
Bem, então lá fui eu sacar as músicas destas duas MC’s. Confesso que não sabia o que esperar, mas seja o que fosse, superou as expectativas e não há dúvida que de algum modo estas duas MC’s já conseguiram inovar no Hip Hop Tuga. E é interessante verificar que as duas são bastante diferentes uma da outra: a Capicua é mais calma, ponderada, mostrando-se um pouco indefesa até. A M7 tem a força da “mulher do século XXI” misturada com uma característica, que eu até concordo com a Nicolau que seria mais difícil encontrar noutro lado que não no Norte, aquilo a que se chama ser uma “mulher do Norte” (acho que a expressão disto tudo). Um exemplo? O que é que é pior: arranjares sarilhos com um guna ou com uma velhota daquelas do Bolhão?...
Contudo, notem que não se pode dizer que uma é mais feminina que outra. Ambas o são, e é com agrado que constato que nem a Capicua caiu no “erro” de cair para o R&B (Dama *cof* Bete) nem a M7 caiu no erro (sem aspas) de se masculinizar. E no entanto uma faz músicas de amor de uma maneira inegavelmente feminina e a outra faz músicas de egotrip com alguma punchlines bem duras.
É um exercício interessante descobrir as inúmeras diferenças entre o rap feito por estas duas raparigas e aquele que todos conhecemos (o masculino). Tal como os MC’s masculinos costumam dirigir-se a um ouvinte masculino (ainda que, dada as regras da gramática, possam ser ouvintes no geral), estas duas dizem coisas como “amiga, como tu, tenho medo da rejeição”.
Resumindo, a nota é positiva. No entanto há que advertir que, se o objectivo final for a igualdade entre sexos na cultura Hip Hop (uma batalha nada fácil), haverá sempre obstáculos dificilmente ultrapassáveis. Exemplo: há músicas da Capicua e da M7 que dificilmente alguém do sexo masculino se identificará com o assunto, o mais provável é até rejeitar com uma careta (lol). Nunca tinha pensado nisso de outra perspectiva, mas também de certeza há (e numa quantidade avassaladora comparativamente com o outro lado) de músicas (portuguesas e outras, claro) com temas mais masculinos que talvez o sexo feminino não entenda ou não se interesse por. A pergunta é: como se resolve isto? Ou não se resolve?
É que se eu fizer uma música sobre bitches e hoes, isso dificilmente se traduzirá num obstáculo na hora de obter um sucesso na bilheteira, mas uma versão feminina, pelo menos enquanto o Hip Hop não conquistar mais público desse sexo, é bem capaz de ser rejeitada.
Se o percurso for percorrido eficientemente, e dada a enorme carência, acredito que é uma questão de tempo até que apareça uma MC portuguesa que inove de uma maneira brutal (se é que não é nenhuma das duas). Há uns anos, eu lembro-me que até se falavam numas quantas: as Lweji, a Sky, as Backwords (pelas quais eu até tinha uma certa admiração) etc, etc. Entretanto, parece que se manifestaram tanto quanto o site da Hip Hop Ladies, ou seja, morreram.
Mais uma coisa: sem dúvida que a melhor MC feminina para mim (e do que eu conheço) é a Jean Grae. Tem um flow e uma escrita que igualam o de muitas lendas masculinas. Porém não tem nenhuma fixação por “agredir” o sexo masculino. Será porque o caminho, por algum motivo, lhe foi facilitado? Se foi, então palmas para o responsável. O que é certo é que acredito que é um modelo a seguir para as MC’s femininas (mas não lhe copiem o estilo! lol).
Agora, não sei se repararam, mas eu pus o título “Hip Hop Feminino” e não “Rap Feminino”. Que eu saiba, a carência do sexo masculino é notável nas quatro vertentes: no breakdance, acho que ainda há grupos que até já têm algum respeito (mais a nível internacional); no graffiti não faço a mínima; DJ’s nunca vi (ou se vi deu-me uma branca); MC’s já referi antes. Dado que percebo muito mais da vertente do Rap do que das duas primeiras, também seria difícil conhecer muitas b-girls e writers femininas. Deixo a análise das outras vertentes para vocês.
Lembrar também que isto tudo está no início, e não se deve exigir demais, ou como a M7 repete umas cinco vezes na Mixtape dela:
«Não se constrói uma casa a começar pelo telhado»
Para sacarem as músicas vão à secção “Downloads” do Guia de Hip Hop na Internet.
4 comentários:
AXO K TODA GENTE REPAROU NA DICA DO TELHADO...LOL...
gOSTAVA DE DESENVOLVER O TEMA, MAS TOU SEM MUITO TEMPO PARA DISSERTAÇOES..CONTINUA COM OS POSTS
ABRAÇO
pRIMOUZ
Olá a todos
Desde já peço desculpa porque sou um bocado ignorante nas questões do HipHop, mas interessam-me particularmente as questões do feminino. Devido à minha confessada ignorância deixo mais questões do que opiniões: tem que haver uma marcação tão forte entre HipHop feminino e HipHop masculino? A mensagem a passar é assim tão diferente, seja mulher seja homem? Nos outros géneros musicais isto também se faz sentir?
Iluminem esta mente ainda obscurecida...
Margarida
1. Não tem de haver nenhuma divisão entre o Hip Hop feminino e masculino, o ideal era até que fosse tudo misturado (já diziam o Bambaataa e o KRS: "Peace, unity, love and having fun").
2. Depende do assunto. O que eu queria dizer no final do post era que falando de certos temas, que têm a ver com o amor e outros do género, há sempre um sexo (masculino ou feminino) que não se identificará com a música.
3. Nos outros géneros também se faz sentir, mas o rap tem uma linguagem mais directa. E nem é esse o problema principal. O maior obstáculo às MC's femininas é a que a grande maioria do público que houve hip hop é masculino.
Enquanto assim for, dificilmente haverá muitas pessoas interessadas por músicas como a "Tabu" (Martataca, 2008).
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