segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Hip Hop Feminino

«É claro que o Hiphop é um contexto muito masculino e em que as mulheres são uma minoria que ainda procura o seu espaço, mas acreditamos que à medida que forem aparecendo mais mulheres, muitas outras seguirão o exemplo, da mesma forma que se a qualidade do que é feito for também aumentando, a têndencia é para que melhore cada vez mais.»

Sygyzy em entrevista ao blog Assalto Sonoro (18 de Junho de 2006)

O que me inspirou a escrever este artigo foi o lançamento da Mixtape “Martataca” da MC M7. Soube desta notícia a partir do blog da Nicolau. Fiquei também a saber que esta pertencia a um grupo, Sygyzy, constituído por quatro elementos: duas MC’s, uma cantora e um DJ (coitado do gajo… ou talvez não lol). A outra MC, de nome Capicua, tinha lançado por sua vez o “Capicua Goes Preemo Vol.1” em finais de 2008. Bem, de tudo isto, a única coisa que eu já tinha ouvido falar era do nome do grupo. E isto porque vi o banner no H2Tuga (nem sequer sabia que tinha esta característica especial de incluir MC’s femininas). Isto porque, como vos disse no post anterior, durante os últimos dois anos, dois anos e meio, estive praticamente só concentrado na cena internacional (nomeadamente norte-americana). Aproveito para comentar que 2008 foi um ano em cheio em termos de lançamentos.

Bem, então lá fui eu sacar as músicas destas duas MC’s. Confesso que não sabia o que esperar, mas seja o que fosse, superou as expectativas e não há dúvida que de algum modo estas duas MC’s já conseguiram inovar no Hip Hop Tuga. E é interessante verificar que as duas são bastante diferentes uma da outra: a Capicua é mais calma, ponderada, mostrando-se um pouco indefesa até. A M7 tem a força da “mulher do século XXI” misturada com uma característica, que eu até concordo com a Nicolau que seria mais difícil encontrar noutro lado que não no Norte, aquilo a que se chama ser uma “mulher do Norte” (acho que a expressão disto tudo). Um exemplo? O que é que é pior: arranjares sarilhos com um guna ou com uma velhota daquelas do Bolhão?...
Contudo, notem que não se pode dizer que uma é mais feminina que outra. Ambas o são, e é com agrado que constato que nem a Capicua caiu no “erro” de cair para o R&B (Dama *cof* Bete) nem a M7 caiu no erro (sem aspas) de se masculinizar. E no entanto uma faz músicas de amor de uma maneira inegavelmente feminina e a outra faz músicas de egotrip com alguma punchlines bem duras.

É um exercício interessante descobrir as inúmeras diferenças entre o rap feito por estas duas raparigas e aquele que todos conhecemos (o masculino). Tal como os MC’s masculinos costumam dirigir-se a um ouvinte masculino (ainda que, dada as regras da gramática, possam ser ouvintes no geral), estas duas dizem coisas como “amiga, como tu, tenho medo da rejeição”.

Resumindo, a nota é positiva. No entanto há que advertir que, se o objectivo final for a igualdade entre sexos na cultura Hip Hop (uma batalha nada fácil), haverá sempre obstáculos dificilmente ultrapassáveis. Exemplo: há músicas da Capicua e da M7 que dificilmente alguém do sexo masculino se identificará com o assunto, o mais provável é até rejeitar com uma careta (lol). Nunca tinha pensado nisso de outra perspectiva, mas também de certeza há (e numa quantidade avassaladora comparativamente com o outro lado) de músicas (portuguesas e outras, claro) com temas mais masculinos que talvez o sexo feminino não entenda ou não se interesse por. A pergunta é: como se resolve isto? Ou não se resolve?

É que se eu fizer uma música sobre bitches e hoes, isso dificilmente se traduzirá num obstáculo na hora de obter um sucesso na bilheteira, mas uma versão feminina, pelo menos enquanto o Hip Hop não conquistar mais público desse sexo, é bem capaz de ser rejeitada.

Se o percurso for percorrido eficientemente, e dada a enorme carência, acredito que é uma questão de tempo até que apareça uma MC portuguesa que inove de uma maneira brutal (se é que não é nenhuma das duas). Há uns anos, eu lembro-me que até se falavam numas quantas: as Lweji, a Sky, as Backwords (pelas quais eu até tinha uma certa admiração) etc, etc. Entretanto, parece que se manifestaram tanto quanto o site da Hip Hop Ladies, ou seja, morreram.

Mais uma coisa: sem dúvida que a melhor MC feminina para mim (e do que eu conheço) é a Jean Grae. Tem um flow e uma escrita que igualam o de muitas lendas masculinas. Porém não tem nenhuma fixação por “agredir” o sexo masculino. Será porque o caminho, por algum motivo, lhe foi facilitado? Se foi, então palmas para o responsável. O que é certo é que acredito que é um modelo a seguir para as MC’s femininas (mas não lhe copiem o estilo! lol).

Agora, não sei se repararam, mas eu pus o título “Hip Hop Feminino” e não “Rap Feminino”. Que eu saiba, a carência do sexo masculino é notável nas quatro vertentes: no breakdance, acho que ainda há grupos que até já têm algum respeito (mais a nível internacional); no graffiti não faço a mínima; DJ’s nunca vi (ou se vi deu-me uma branca); MC’s já referi antes. Dado que percebo muito mais da vertente do Rap do que das duas primeiras, também seria difícil conhecer muitas b-girls e writers femininas. Deixo a análise das outras vertentes para vocês.

Lembrar também que isto tudo está no início, e não se deve exigir demais, ou como a M7 repete umas cinco vezes na Mixtape dela:

«Não se constrói uma casa a começar pelo telhado»

M7 - Intro in Martataca (2008)

Para sacarem as músicas vão à secção “Downloads do Guia de Hip Hop na Internet.

4 comentários:

Anónimo disse...

AXO K TODA GENTE REPAROU NA DICA DO TELHADO...LOL...
gOSTAVA DE DESENVOLVER O TEMA, MAS TOU SEM MUITO TEMPO PARA DISSERTAÇOES..CONTINUA COM OS POSTS


ABRAÇO


pRIMOUZ

Margarida Fernandes disse...

Olá a todos

Desde já peço desculpa porque sou um bocado ignorante nas questões do HipHop, mas interessam-me particularmente as questões do feminino. Devido à minha confessada ignorância deixo mais questões do que opiniões: tem que haver uma marcação tão forte entre HipHop feminino e HipHop masculino? A mensagem a passar é assim tão diferente, seja mulher seja homem? Nos outros géneros musicais isto também se faz sentir?

Iluminem esta mente ainda obscurecida...

Margarida

Profeta de Philogelos disse...

1. Não tem de haver nenhuma divisão entre o Hip Hop feminino e masculino, o ideal era até que fosse tudo misturado (já diziam o Bambaataa e o KRS: "Peace, unity, love and having fun").
2. Depende do assunto. O que eu queria dizer no final do post era que falando de certos temas, que têm a ver com o amor e outros do género, há sempre um sexo (masculino ou feminino) que não se identificará com a música.
3. Nos outros géneros também se faz sentir, mas o rap tem uma linguagem mais directa. E nem é esse o problema principal. O maior obstáculo às MC's femininas é a que a grande maioria do público que houve hip hop é masculino.
Enquanto assim for, dificilmente haverá muitas pessoas interessadas por músicas como a "Tabu" (Martataca, 2008).

Anónimo disse...

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