«E não é menos Hip Hop só porque falas de mulheres»
Mas há quem despreze este valor positivo. Chamo-lhes conservadores porque acham que o hip hop devia estar sujeito a uma quantidade muito maior de regras do que está na realidade. Os conservadores do tipo fanático acham que o hip hop devia falar estritamente de consciência social, enquanto que os do tipo leigo preferem os temas amorosos, sobre mulheres e festas. Nem oito nem oitenta. Chamo-lhes ignorantes porque é isso que fazem: ignoram partes da história desta cultura e esquecem algo muito importante, que é o espírito africano. Ele (ainda) persiste e está entranhado no hip hop e está relacionado com um ritmo muito especial. Isso, combinado à situação primitiva de muitos imigrantes nos anos 70, é que deu o gosto muito singular que é a essência dele. Claro que entretanto sofreu muitos processos de transformação, mas esses só trouxeram ainda mais variedade e alargaram os limites deste universo.
Então, não acham pouco razoável que se cultive uma adoração aos Dealema e Sam The Kid e se deixe outros para trás, sejam os Dupla Consciência ou os Mundo Complexo, apenas porque apostaram em estilos ainda pouco habituais? Toda a gente tem direito a não gostar de um ou outro grupo, porque não sente a música ou não se identifica com a mensagem, mas não censurem uns por quererem deixar a sua marca de um modo peculiar. Não vale a pena acreditar na revolução se depois até na música se é conservador.
Deixo aqui outra citação, para contrastar com a primeira. “Nem oito nem oitenta”.
«- Agora o pessoal quer curtir é festas, man!- Ah é?
- Eh pá, faz sons do género: “Vamos curtir, ei, vamos dançar, ei!”. 'Tás a ver? Assim coisas do género, tipo p'rás mulheres também saltarem, ver as tangas no ar e sutiãs e coisas do género, 'tás a ver?
- 'Tou a ver.
(Valete desliga o telemóvel)
- Tss. Cabrões do carago...»
2 comentários:
"...acham que o hip hop devia estar sujeito a uma quantidade muito maior de regras do que está na realidade..."
o hip hop não deve estar sujeito a regras. o neto pródigo do jazz (filho do funk) nasce de uma vontade de expressão, alicerçado a uma procura e espírito de liberdade.
but that's just me yapping...
Depende de que regras estamos a considerar. As regras podem torná-lo monótono se existirem em excesso e original se existirem numa quantidade ideal (a pergunta é: e qual seria a quantidade?). No caso específico do rap (não confundir uma coisa com a outra) uma das principais regras que toda a gente conhece é o ritmo (a batida, que de uma forma ou de outra, está presente em todas as músicas). Se as músicas não tivessem esse ritmo, diferenciá-lo de outros estilos musicais seria mais difícil, pois aí o rap teria uma identidade menos própria, e por isso menos original.
Enviar um comentário