domingo, 19 de julho de 2009

Surpresas

Já me aconteceu montes de vezes ter demasiadas expectativas (mais comum) ou esperar menos do que aquilo que afinal encontro (menos comum).

Quanto ao primeiro, vou dar este exemplo: quando estava tudo à espera do Suspeitos do Costume dos Mind Da Gap e saíram cá para fora os singles, eu fiquei de boca aberta (mas porque tive uma surpresa negativa). Os Mind Da Gap são daqueles grupos que não seguem propriamente um caminho específico (embora o som seja facilmente identificável). Todos os álbuns eles mudam um bocado (talvez menos nos primeiros dois), trocam algumas características por outras, o que os torna sem dúvida mais inovadores. Por isso, cada álbum é uma nova experiência: às vezes corre bem, outras vezes corre mal.

No caso do Suspeitos do Costume não achei que o álbum inteiro fosse mau, mas quando ouvi as músicas “Socializar Por Aí” e “Bazamos ou Ficamos?” torci o nariz. Não era o que estava à espera, e durante algum tempo perguntei-me se aquela sonoridade faria parte do álbum todo, e se se manteria esse registo daí em diante no percurso dos MDG. Felizmente, não aconteceu nem uma coisa nem outra, e há faixas de que gosto muito nesse álbum.

Entretanto, como dizia num comentário que fiz à pouco tempo no HIPHOPulsação, já “fiz as pazes” com essas músicas. Não são músicas que me marquem, mas também já não desgosto. Uma característica que se percebe nos MDG, e que está presente nessas duas faixas, é o humor. Eu torci o nariz ao princípio, porque também não percebi que essas músicas deviam ser recebidas com humor, porque as próprias letras são a gozar (e uma crítica intrínseca na “Socializar Por Aí”).

Agora o contrário: um álbum de que não esperava muito e que acabou por se revelar bastante bom, na minha opinião. Quando ouvi os singles do Graduation do Kanye West, gostei, mas achei um bocado pop demais. O Kanye West é um excelente produtor, sem dúvida daqueles que estão sempre na vanguarda, e como MC também tem as suas virtudes, embora esteja longe de ser dos meus preferidos. É um MC que consegue pôr nas letras emoções muito fortes, e como também canta bem, consegue intensificá-las ainda mais.

Mas não esperava que o álbum fosse o que fosse. Enfim, como rap acima de tudo é música, o álbum até seria bom, mas teria defeitos no conteúdo. Bom, acabou por se revelar que sim, tem os seus defeitos, mas muito menos do que se esperava. À parte aquele ambiente robótico do “Stronger”, Graduation é um álbum bastante humano, e o Kanye West não tem problemas nenhuns em desabafar sobre os mais variados temas. A nível da produção, onde eu tinha mais expectativas, as músicas conseguiram ainda assim surpreender-me.

Já sei que já toda a gente “bateu” o mais que pôde naquele vídeo em que o KRS-One compara o 50 Cent com o Kanye West, mas há uma crítica que ele faz que não foi muito falada, e que também acho errada: o KRS-One fala da viragem do West para o pop com uma “degeneração”, como se isso o tornasse menos real. Ora, eu também teria gostado mais que o Kanye West tivesse inovado sem se aproximar muito desse género, mas acho que é preciso ser-se um bocado preconceituoso para fazer uma insinuação destas. O rap sempre se misturou com outros tipos de música, é uma forma de se regenerar, não o contrário. Talvez até seja a resposta certa a esta treta do “Hip Hop is dead”.

Ainda não ouvi o último álbum dele, o 808s & Heartbreak, mas já ouvi os singles e li alguns artigos sobre ele. O Kanye West continuou a caminhar para o pop, mas parece que ganhou um gosto um bocado “dark” (quase como se antevisse a morte da mãe). Esta característica também me agrada, e pode ser a chave para diferenciar a jornada do Kanye West pelo mundo da pop das experiências anteriores de fusão entre os dois géneros.

Mais recentemente, também tive outra experiência decepcionante. Vi o videoclip da música “In My Sleep” do Joe Budden, e achei uma das melhores story tellings que já tinha ouvido. Ficou-me na cabeça durante montes de tempo. Identifiquei-me mesmo com a letra. Quem ouvir o instrumental nem acredita que uma música tão complexa tenha por base um beat tão simples (digo eu). Li a crítica que a Nicolau fez ao álbum, mas como ela não disse nem que era muito mau, nem que era muito bom, não perdi as expectativas. E quando ouvi o Padded Room… Há que dizer que também tem outras faixas boas para além da “In My Sleep”, mas as más, são mesmo más. Aliás, a segunda faixa, “The Future”, jurei que nunca mais a vou ouvir. Sempre que quiser ouvir o álbum de novo, vou passar aquela faixa à frente. Entrou no meu top de “músicas de merda”. Se enquanto eu só conhecia a “In My Sleep” me tivessem mostrado o refrão da “The Future” e me tivessem dito que aquilo pertencia a uma música de Joe Budden, eu não teria acreditado. Parece mesmo saído daquelas compilações Dance qualquer-coisa 2009 ou uma merda do género.

Comentem, e falem das surpresas que vocês próprios tiveram.

4 comentários:

Francisco disse...

boas!
só descobri hoje este teu espaço. Gostei muito e virei cá mais vezes, no doubt! :)

Um abraço

Francisco disse...

só para acrescentar: como também só hoje descobrir o "Guia", aproveito para dizer que me vou perder nele... grande trabalho!
o Hip-Hop agradece.

Profeta de Philogelos disse...

Obrigado. Como já te deves ter apercebido, eu já conheço o teu blog, graças aos senhores do Primouz.

Quanto ao guia, bom proveito, mas não te percas, senão deixa de ser um guia ;)

Fica bem.

Nicolau disse...

Epa só hoje é que percebi que o teu blog tinha desaparecido dos meus feeds! Realmente há bue que não via posts teus lol

A minha opinião do álbum do Joe Budden foi precisamente essa: nem muito bom, nem muito mau. Tem alguns aspectos muito positivos e outros muito negativos.

A The Future é intragável.